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FERNANDO RODRIGUES
"Estatização", palavra polêmica
WASHINGTON - Banqueiros e
governos falam de "injeção de recursos" e "compra de ações" de instituições financeiras encrencadas.
Evita-se sempre a expressão "estatização". É um tabu como era no
passado falar em público a respeito
de alguém com câncer. Românticos
de Cuba reclamam dessa novilíngua do poder -apenas com razão
parcial, pois é necessário ponderar
as nuanças do atual cenário.
Do ponto de vista lingüístico, o
termo "estatização" está correto. Se
um banco privado passa a ser controlado pelo governo, torna-se uma
entidade estatal.
Mas há também a carga ideológica dentro da expressão. Quando nos
países socialistas houve estatização, tratava-se de medida para a vida toda. Pelo menos essa era a intenção de soviéticos e seus satélites
durante décadas no século passado.
Ou seja, ao dizer simplesmente
"EUA estatizam bancos" conta-se
só metade da história.
Engana-se quem imagina a Casa
Branca tomada por neobolcheviques, capitulando aos ensinamentos de Marx. Na realidade, não há o
menor sinal de uma política para
aumentar a presença do Estado na
economia de maneira perene. Nenhum integrante da equipe econômica norte-americana defende a
estatização eterna das instituições
bancárias agora socorridas.
A idéia do pacotão de George W.
Bush é tentar salvar o capitalismo.
Se for necessário torrar dinheiro
público, cumpra-se. Passada a turbulência, o movimento será de vender de volta todos os bancos para a
iniciativa privada.
É possível, por óbvio, discutir se
essa é uma boa saída. Há argumentos para todos os gostos. Inimigos
do capitalismo vaticinam um fracasso inexorável. Prevêem o sistema financeiro nas mãos do Estado
para sempre. Apostar nesse desfecho embute um risco tão alto como
comprar derivativos lastreados no
mercado imobiliário dos EUA.
frodriguesbsb@uol.com.br
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