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RUY CASTRO
Jogo de cena
RIO DE JANEIRO - Correndo o
risco de cair em "rigor mortis" e
nunca mais voltar, assisti outro dia
ao debate entre os candidatos à Presidência dos EUA, Barack Obama e
John McCain. Nos poucos instantes em que recobrei a consciência,
convenci-me de que política é jogo
de cena, coreografia, expressão corporal, e o resto é literatura.
O formato do debate, com os candidatos podendo circular pelo palco, favoreceu Obama. Ele desliza
pelo cenário com uma graça e leveza que, no passado, pareciam exclusividade de Sidney Poitier ou Harry
Belafonte. Usa bem os braços,
criando um campo ao seu redor, como se se apossasse daquele espaço.
O microfone parece sumir de vista e
ele sabe explorar sua voz clara e
grave. O que diz não tem tanta importância.
Já McCain tem os bracinhos curtos e empunha o microfone como se
este fosse uma banana ou uma cenoura. As pernas também são curtas e, às vezes, ele parece trôpego. A
voz ganhou um véu rouco, que ele
certamente não tinha em 1956,
quando dizia coisas ao ouvido de
sua namorada brasileira. Sua ficha
médica tem 1.500 páginas, incluindo uma suspeita de câncer de pele e
uma inexplicável bochecha inchada. Teme-se que morra em meio ao
mandato -mas, por outros motivos, Obama também não está livre
desse risco.
Confesso que McCain me enterneceu ao se dirigir meigamente às
pessoas do auditório como "meus
amigos". É o de que ele precisa -fazer amigos-, se quiser influenciar
pessoas e apagar sua ligação com o
governo George W. Bush, o mais detestado da história dos EUA.
McCain tem 72 anos; Obama, 47.
Por mais que digam o contrário, isso faz diferença. Principalmente
quando se trata de desempenhar
uma das principais atividades dos
presidentes americanos: acenar do
alto da escadinha do avião.
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