São Paulo, segunda-feira, 13 de outubro de 2008

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RUY CASTRO

Jogo de cena

RIO DE JANEIRO - Correndo o risco de cair em "rigor mortis" e nunca mais voltar, assisti outro dia ao debate entre os candidatos à Presidência dos EUA, Barack Obama e John McCain. Nos poucos instantes em que recobrei a consciência, convenci-me de que política é jogo de cena, coreografia, expressão corporal, e o resto é literatura.
O formato do debate, com os candidatos podendo circular pelo palco, favoreceu Obama. Ele desliza pelo cenário com uma graça e leveza que, no passado, pareciam exclusividade de Sidney Poitier ou Harry Belafonte. Usa bem os braços, criando um campo ao seu redor, como se se apossasse daquele espaço. O microfone parece sumir de vista e ele sabe explorar sua voz clara e grave. O que diz não tem tanta importância.
Já McCain tem os bracinhos curtos e empunha o microfone como se este fosse uma banana ou uma cenoura. As pernas também são curtas e, às vezes, ele parece trôpego. A voz ganhou um véu rouco, que ele certamente não tinha em 1956, quando dizia coisas ao ouvido de sua namorada brasileira. Sua ficha médica tem 1.500 páginas, incluindo uma suspeita de câncer de pele e uma inexplicável bochecha inchada. Teme-se que morra em meio ao mandato -mas, por outros motivos, Obama também não está livre desse risco.
Confesso que McCain me enterneceu ao se dirigir meigamente às pessoas do auditório como "meus amigos". É o de que ele precisa -fazer amigos-, se quiser influenciar pessoas e apagar sua ligação com o governo George W. Bush, o mais detestado da história dos EUA.
McCain tem 72 anos; Obama, 47. Por mais que digam o contrário, isso faz diferença. Principalmente quando se trata de desempenhar uma das principais atividades dos presidentes americanos: acenar do alto da escadinha do avião.


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