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FERNANDO RODRIGUES
Bimbalham os sinos no Congresso
BRASÍLIA - A crise econômica batendo à porta tem sido um bálsamo
para os políticos e suas mazelas.
Outro dia a Câmara absolveu o
deputado Paulinho da Força Sindical, do PDT de São Paulo. Ele era
acusado de atuar num esquema de
desvio de dinheiro público. Negou
as acusações, apesar de o relator do
caso ter sustentado haver provas.
Ficou tudo por isso mesmo.
Agora, o Senado se prepara para
dar apoio a uma farra de vereadores. Haverá um aumento de 7.343
cadeiras nos Legislativos municipais em todo o país.
A Câmara já aprovou a medida. A
proposta tem chance de passar pelo
Senado na semana que vem, quando a maioria dos brasileiros já estará ouvindo o bimbalhar dos sinos
das festas de fim de ano.
No Brasil, ser político é quase exclusivamente uma forma de ascensão social. Os locais têm um apetite
insaciável pelas boquinhas. Basta
lembrar o número de deputados federais. Aqui, para 190 milhões de
brasileiros há 513 cadeiras na Câmara. Nos EUA, são 305 milhões de
pessoas e apenas 435 vagas.
Eleger um grande número de representantes pelo voto direto não é
uma má idéia em si. Mas é difícil
imaginar que Campos do Jordão,
em São Paulo, será uma cidade melhor porque poderá ter 13 e não apenas nove vereadores. No geral, os
municípios paulistas terão um
acréscimo de 1.189 vereadores. É
mínima a chance de se tornarem cidades com nível de vida mais elevado por causa dessa farra.
Nada contra haver mais gente
sendo eleita. O problema no Brasil é
o cargo público vir sempre acoplado
a algum risco de aumento de despesa. Não passa pela cabeça dos gênios
no Congresso que vereadores de cidades com até 30 mil habitantes
não precisariam ser remunerados.
Mas aí perderia toda a graça ser político. Poucos se interessariam em
demonstrar tanto espírito público e
democrático.
frodriguesbsb@uol.com.br
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