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CLÓVIS ROSSI
Avacalhação
SÃO PAULO - Começam a ficar demasiado freqüentes os momentos
em que dá uma imensa vontade de
desafiar a proibição de usar palavras chulas neste espaço (e nesta
página) e encher o texto de palavrões. Seria, aliás, a única maneira
de estar de acordo com o modo de
fazer política no Brasil.
O português castiço é insuficiente para descrever o que se passa.
Tome-se o caso de Jutahy Magalhães Jr., o líder do PSDB na Câmara. Disse a Eliane Cantanhêde que
"a grande maioria [dos deputados]
precisa das regras e da participação
formal, senão, não existe".
"Participação formal" quer dizer
cargos, posições e, por extensão, as
vantagens decorrentes. É a despudorada confissão de que deputados
não são eleitos para legislar, apresentar projetos, idéias, fiscalizar o
Executivo, mas para ocupar posições. Ou não existem.
Nesse caso, não seria muito mais
barato e lógico reduzir o número de
deputados a 11 (os sete titulares
mais os quatro suplentes da mesa)?
Vantagem dupla: custo menor e
eleição direta de quem deve comandar o Legislativo.
Passemos agora a Aldo Rebelo, o
atual presidente dos que existem e
dos que não existem. Disse que, ao
apoiar Arlindo Chinaglia, o PSDB
"arquivou a oposição". Beleza. Quer
dizer então que votar em Rebelo seria fazer oposição ao governo Lula?
Bem em Rebelo que foi ministro de
Lula, que foi o candidato de Lula na
eleição anterior da mesa e que faz o
diabo para obter outra vez o apoio
de Lula? Sem falar na possibilidade
de que se torne de novo ministro de
Lula, se perder a eleição na Câmara.
Na prática, Rebelo está insultando a inteligência do eleitor ao pretender ser o que não é. Como Jutahy despreza o eleitor, ao anular,
na prática, o voto dos que elegeram
deputados que não terão "participação formal" na Casa.
Que palavrão você usaria para
qualificar tal avacalhação?
crossi@uol.com.br
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