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RUY CASTRO
"Desafinado" no Maracanã
RIO DE JANEIRO - Meu amigo, o
maestro Julio Medaglia, não sabe
com quem se meteu. Um dia, ele alçou a fronte e, como diria Nelson
Rodrigues, declarou, de lábio trêmulo e olho rútilo: "O Maracanã jamais cantará o "Desafinado'!".
Veja bem, não era uma praga que
Julio estivesse rogando no revolucionário samba que Tom Jobim e
Newton Mendonça fizeram há exatamente 50 anos e que se tornou
uma das bandeiras da nascente bossa nova. Ao contrário. Era só uma
metáfora, mesmo porque ele sempre foi louco pelo "Desafinado".
Julio queria dizer que, por sua riqueza melódica, sofisticação harmônica, encanto rítmico, densidade lírica etc., a bossa nova nunca
atingiria as massas, então mais interessadas nos boleros de Anísio
Silva ou nas cantigas do palhaço Carequinha. O Maracanã, capaz de
acomodar 180 mil torcedores no
Fla-Flu, seria um símbolo da multidão condenada a passar ao largo das
maravilhas do gênero.
Pois, mais jovem do que nunca, a
cinqüentona bossa nova acaba de
ser tombada pela Prefeitura do Rio.
Em função disso, prevê-se para
2008 um mutirão das secretarias de
Educação, Cultura e Turismo do
município para apresentá-la àqueles que, por vários motivos, têm
pouco acesso a ela: as classes C e D,
os jovens em geral, o pessoal do interior fluminense, os brasileiros de
outros Estados e os turistas estrangeiros. Mais importante: a bossa
nova será levada às escolas da enorme rede pública carioca de ensino
fundamental, a cargo da prefeitura.
Um dos maiores entusiastas do
projeto é outro amigo, Carlos Alberto Afonso, o incansável dono da
Toca do Vinicius. E ele não faz por
menos. Até o fim do ano, quer ver
dezenas de milhares desses meninos da rede pública, com seus pais e
vizinhos, cantando o "Desafinado"
nas arquibancadas do Maracanã.
E vai mandar convidar o Julio.
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