São Paulo, quarta-feira, 14 de janeiro de 2009

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MARCOS AUGUSTO GONÇALVES

Operação simbólica

SÃO PAULO - E o que você achou do resultado da cirurgia plástica a que foi submetida a ministra Dilma Rousseff -esse "PAC da auto-estima", como bem definiu o jornal "O Globo"? Na sua opinião isso não interessa, é comentário supérfluo e machista?
Ora, por favor. Não tenho dúvida de que o resultado de cirurgias embelezadoras em pessoas célebres é, na verdade, um assunto bem mais feminino do que masculino. Ou será que as nossas deputadas, senadoras, madames e trabalhadoras nem repararam na mudança? Já encontrei, aliás, amigas que gostaram e amigas que não gostaram.
Mas não é esse o ponto. Afinal, como dizia Rosa, cada um o que quer aprova: pão ou pães, é questão de opiniães... Vamos, portanto, ficar com a operação simbólica, deixando de lado a intervenção médica, física: o rejuvenescimento da ministra é a fulgurante contrapartida do encarquilhamento do PT como alternativa para a sucessão.
O partido, como se sabe, jamais viu na companheira a candidata de seus sonhos para concorrer ao Planalto em 2010. Terá, no entanto, que aceitá-la, uma vez que suas lideranças, ou foram dizimadas por mensalões e dossiês aloprados, ou não tiveram competência para se estabelecer. Todos já sabiam, mas ao mostrar sua face renovada, Dilma consagrou-se como a ungida por Lula. Vestiu-se para o desafio.
Ninguém, no início do primeiro mandato, poderia imaginar que algo assim fosse acontecer. Mas aconteceu. O descolamento do presidente em relação ao partido que ele mesmo criou é flagrante. O PT, que nasceu como uma esperança de renovação da cultura política e de combate a práticas antiéticas, tornou-se sinônimo de encrenca, uma feia contrafação de si mesmo. E, sem o carisma e a esperteza de seu líder, não há mais plástica que possa salvá-lo.


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