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MARCOS AUGUSTO GONÇALVES
Operação simbólica
SÃO PAULO - E o que você achou
do resultado da cirurgia plástica a
que foi submetida a ministra Dilma
Rousseff -esse "PAC da auto-estima", como bem definiu o jornal "O
Globo"? Na sua opinião isso não interessa, é comentário supérfluo e
machista?
Ora, por favor. Não tenho dúvida
de que o resultado de cirurgias embelezadoras em pessoas célebres é,
na verdade, um assunto bem mais
feminino do que masculino. Ou será que as nossas deputadas, senadoras, madames e trabalhadoras nem
repararam na mudança? Já encontrei, aliás, amigas que gostaram e
amigas que não gostaram.
Mas não é esse o ponto. Afinal,
como dizia Rosa, cada um o que
quer aprova: pão ou pães, é questão
de opiniães... Vamos, portanto, ficar
com a operação simbólica, deixando de lado a intervenção médica, física: o rejuvenescimento da ministra é a fulgurante contrapartida do
encarquilhamento do PT como alternativa para a sucessão.
O partido, como se sabe, jamais
viu na companheira a candidata de
seus sonhos para concorrer ao Planalto em 2010. Terá, no entanto,
que aceitá-la, uma vez que suas lideranças, ou foram dizimadas por
mensalões e dossiês aloprados, ou
não tiveram competência para se
estabelecer. Todos já sabiam, mas
ao mostrar sua face renovada, Dilma consagrou-se como a ungida
por Lula. Vestiu-se para o desafio.
Ninguém, no início do primeiro
mandato, poderia imaginar que algo assim fosse acontecer. Mas aconteceu. O descolamento do presidente em relação ao partido que ele
mesmo criou é flagrante. O PT, que
nasceu como uma esperança de renovação da cultura política e de
combate a práticas antiéticas, tornou-se sinônimo de encrenca, uma
feia contrafação de si mesmo. E,
sem o carisma e a esperteza de seu
líder, não há mais plástica que possa salvá-lo.
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