|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
CARLOS HEITOR CONY
A fama e a cama
RIO DE JANEIRO - Com a chegada do Carnaval, aumenta a oferta sexual
no Rio, situado abaixo da linha do
equador e vendido para o turismo interno e externo como a nova Gomorra ou como a antiga Babilônia, que
os profetas da bíblia chamavam de
"Grande Meretriz".
Natural que polícia, Justiça e imprensa fiquem escandalizadas e botem a boca no trombone chamando a
atenção de si mesmas para aquilo
que classificam de "escabrosidade",
ou seja, o exercício da mais antiga
profissão do mundo, para a qual nenhum ministério do Trabalho fixou a
idade mínima, havendo apenas o natural limite da idade máxima.
Nos anos 80 do século passado, foi
descoberta uma rede de prostituição
infantil no Norte e Nordeste, meninas
e meninos de oito anos vendidos a intermediários nacionais e internacionais. Fiz alguns textos sobre isso na
revista em que trabalhava, e muitos
outros jornalistas fizeram o mesmo.
Em países onde a concentração de
renda é considerada "obscena" por
um presidente da República que acumulava a função de sociólogo, a escabrosidade, além de antiga, está sempre em expansão.
Quando Puccini fez "Madama Butterfly", história da menina de 15 anos
que é comprada em Nagasaki por um
oficial da Marinha norte-americana
(o prazo de validade da compra era
modesto, apenas 999 anos), Gustav
Mahler, o deus que fazia chover na
Viena daquela época, considerou a
ópera imoral, indigna de ser encenada no santuário musical do qual era
diretor. Bem verdade que, anos mais
tarde, muita gente considerou imoral
uma certa bomba que estourou na
mesmíssima cidade, matando milhares de butterflies com menos idade .
É constrangedor passar à noite por
certos pontos da orla do Rio. Na Paris
da "belle époque", a oferta era farta
também, e o "quarteirão dos prazeres", em Hamburgo, não ficava atrás.
O Rio criou uma fama igual e, diz o
ditado que, criada a fama, deita-se
na cama.
Texto Anterior: Austin - Fernando Rodrigues: Encanto quebrado Próximo Texto: Luciano Mendes de Almeida: Cuidar dos enfermos Índice
|