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RUY CASTRO
A vida virtual
RIO DE JANEIRO - O jornal impresso é uma mídia física. E, como
todas as mídias físicas, corre sério
perigo. Nem o tubarão australiano
Rupert Murdoch quer mais "imprimir sobre árvores mortas", como
ele ingratamente disse. O jornal do
futuro será um celular a ser levado
na palma da mão, inclusive para o
banheiro, que sempre foi o melhor
lugar para ler jornal.
O livro também é uma mídia física. E, como tal, igualmente está
com as barbas de molho. Para o seu
lugar, já existe o (por enquanto, só
nos EUA) Amazon kindle, um leitor
de livros eletrônicos do estoque invisível da Amazon, a famosa loja
virtual. A engenhoca "baixa" milhares de títulos, do pioneiro "Le morte d'Arthur", de 1485, ao último escritor afegão, irlandês ou africano
inventado pelas editoras.
O CD também é uma mídia física,
e já quase em estado ectoplásmico.
Ninguém mais pensa em comprar
discos. Com dois toques num aparelhinho, a música que você quer
surge de uma discoteca no espaço e
penetra para sempre no seu iPod,
indo fazer companhia às 180 horas
de música que você já armazenou e
que, um dia, pretende ouvir, todas
de uma vez.
E o DVD é outra mídia física em
avançado estágio de decomposição.
Assim como se "baixam" músicas,
"baixam-se" filmes, legal ou ilegalmente -de "A Vida de Cristo", de
1904, ao último Woody Allen, que
ele ainda nem terminou de filmar-,
para ser vistos numa telinha de três
polegadas. Se você for monoglota, o
pirata "baixa" as legendas em português, e estamos conversados.
De repente, concluo que, como o
jornal, o livro, o CD e o DVD, eu
também sou uma mídia física. Donde, como eles, candidato à extinção.
Talvez um dia me transforme num
espírito puro, virtual. Mas, se puder
escolher, vou preferir impuro -não
sei se a vida apenas virtual tem essa
graça toda.
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