São Paulo, sexta-feira, 14 de abril de 2006

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TENDÊNCIAS/DEBATES

Renovar e inovar: o IPT de cara nova

GUILHERME ARY PLONSKI

"Renovação" foi a mensagem do ex-governador Geraldo Alckmin ao me indicar, em julho de 2001, para a posição de diretor-superintendente do IPT (Instituto de Pesquisas Tecnológicas do Estado de São Paulo). Conduzir uma instituição desse valor foi uma missão apaixonante e profissionalmente engrandecedora. Ao deixar o cargo, no momento em que Alckmin parte para um desafio de alcance nacional, cumpro o dever de prestar contas da renovação feita ao longo desses pouco mais de quatro anos.


Tradição e inovação apontam para um IPT pronto a ingressar rejuvenescido na era da comunicação digital


A conquista do Prêmio Finep 2002 de Inovação Tecnológica das mãos do presidente da República -no primeiro ano em que foi concedido a instituições de pesquisa- marcou o início de um novo estágio de visibilidade do IPT na sociedade e no Estado. Ao lastro de uma história secular de projetos inovadores, cujos resultados foram incorporados pelos setores produtivos e pelas políticas públicas, somou-se a simulação de uma TV digital interativa (em parceria com a Cidade do Conhecimento, da USP). Tradição e inovação, combinadas, apontam para um IPT pronto a ingressar rejuvenescido na nova era da comunicação digital no país.
O IPT se posicionou em novos temas-chave da economia do conhecimento, tais como tecnologias aplicadas à segurança pública, nanotecnologias e e-gov, preparando massa crítica para mercados que serão dominantes no futuro. No contexto do apoio à inovação nas empresas, vale destacar a participação do IPT no Cietec, a maior incubadora da América Latina, assim como a sua presença em três dos cinco parques tecnológicos paulistas.
O instituto tem participado dos principais foros voltados à criação de um ambiente mais propício à inovação tecnológica no país, bem como concebido e operado iniciativas pioneiras, tais como o Observatório de Tecnologia e Inovação e o Espaço Tecnologia, na Assembléia Legislativa.
Internamente, a prioridade foi valorizar o corpo profissional, renovando-o pela admissão de dezenas de novos pesquisadores, graças ao primeiro concurso em uma década, bem como pelo programa Novos Talentos, oferecido a estudantes. A gestão de pessoas é sobretudo um investimento em cultura e clima organizacional. Nesse espírito, o desafio contemporâneo é recusar o estilo autoritário, que muitas vezes caracteriza as grandes burocracias, para colocar em evidência os valores de cada indivíduo na construção de consensos. Essa orientação tornou-se norma da casa, inspirando a preparação do projeto de gestão por competências.
Na renovação da gestão, confirmou-se a busca da melhoria contínua que sempre foi a característica marcante do instituto; contribuiu também para iniciar uma importante inflexão estratégica na sua trajetória. A agilização das ações foi conseguida, entre outros, por convênio de cooperação com a Fundação de Apoio ao IPT, instituída no ano de 2003 por iniciativa dos pesquisadores do próprio instituto.
Importante renovação gerencial iniciada em 2004 para adaptar o instituto ao seu ambiente de atuação compreende os "quatro Rs": refocalização, reorganização, redimensionamento e reconhecimento. Superou-se a configuração tradicional do IPT em campos do conhecimento, representados por divisões técnicas, em favor de um modelo de centros tecnológicos cuja prioridade é o foco nas áreas de atuação externa. Já adequando o instituto ao novo marco legal da inovação no país e no Estado, foi criada a Agência IPT de Inovação.
Esse conjunto de movimentos combinados de valorização da tradição e abertura para a inovação permitiu que o compromisso de gestão com o governo do Estado tenha sido não apenas integralmente cumprido mas também superado no que diz respeito às receitas próprias, que representam mais da metade do orçamento. Foi atingido resultado econômico líquido positivo em 2005, ano de formidáveis ajustes na instituição (apenas uma vez isso havia ocorrido desde que se tornou empresa, há 30 anos). O equilíbrio das contas foi obtido mantendo e, quando factível, aumentando a relevância tecnológica do IPT para o setor produtor e para as políticas públicas.
A capacidade ímpar do instituto de beneficiar a sociedade brasileira, em especial a que mora em São Paulo, foi reconhecida com a outorga ao instituto do Prêmio Mario Covas 2005 de Inovações na Gestão Pública, na categoria de Atendimento ao Cidadão.
Renovar significa inovar de novo, e, assim, paradoxalmente, fazer da inovação uma tradição. No IPT, essa renovação contínua foi acelerada no contexto recente de indiscutíveis ameaças econômicas, tecnológicas e financeiras globais. Os dividendos colhidos nesse período de renovação reforçam o patrimônio estadual que, bem cuidado e compartilhado, garantirá tanto ao IPT quanto a paulistas e brasileiros um papel de destaque no novo ciclo de crescimento sustentável do país, amparado na inovação tecnológica e no desenvolvimento humano integral.

Guilherme Ary Plonski, 57, engenheiro, é professor titular da Faculdade de Economia e Administração da USP, professor associado da Escola Politécnica da USP e diretor superintendente do IPT (2001-2006).


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