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FERNANDO DE BARROS E SILVA
Fé sem lei
SÃO PAULO - É claro que impressiona a maneira ao mesmo tempo
vulgar e estudada com que o bispo
Romualdo Panceiro orienta seus
pastores a arrecadar o dízimo em
época de crise. Mas suas dicas "bíblicas" de como arrancar dinheiro
dos fiéis não chegam a surpreender
quem já conhece os métodos da
Igreja Universal. Muita gente de
boa-fé pode ter razões para se escandalizar, mas até aqui estamos no
terreno das transações lícitas.
As coisas mudam de figura e têm
outra gravidade quando assistimos,
na Folha Online, ao segundo vídeo
que acompanha a reportagem de
Rubens Valente, na Folha de ontem. Nessa fita, o mesmo bispo
Panceiro dá uma palestra a um grupo de pastores reunidos numa sala.
A certa altura, desliga o gravador e
diz: "O nosso problema não é bandido. O nosso problema é a polícia".
Panceiro explica então por que
razões acreditava que o assalto na
véspera a um carro-forte que carregava R$ 52 mil arrecadados num
culto havia sido realizado por policiais. E vai além: orienta os pastores para que procurem os "chefes"
dos bandidos das comunidades onde atuam a fim de criar com eles
uma relação de ajuda mútua:
"A gente é companheiro ou não
é? Fala assim!". "Já falei para vocês
fazerem (isso). O bispo quer que isso seja feito em todo o Brasil, como
nós fizemos aqui". O "bispo", como
é fácil presumir, é Edir Macedo, o
líder da Universal, o dono da Rede
Record, hoje um dos homens mais
ricos e poderosos do país. E Romualdo, que fala em seu nome, é
apontado pelo próprio Macedo como seu sucessor dentro da igreja.
O que choca, portanto, não é
mais o proselitismo agressivo e tosco com fins mercantis. É a sugestão
de uma teia de cumplicidades entre
a cúpula da Igreja Universal e o crime organizado. Além, é claro, da
"denúncia" involuntária de que a
polícia jogou como bandido.
Pragmatismo sem peias, mistura
entre business e fé, aliança entre
igreja e criminosos, agentes do Estado agindo fora da lei. Parece que
estamos mesmo no novo Brasil.
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