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RUY CASTRO
Pasto para os paparazzi
RIO DE JANEIRO - Outro dia, antes das chuvas, quem caminhou de
manhã bem cedo pelo calçadão do
Leblon deparou com o Flamengo
treinando na praia. Lá estavam
Adriano, Vagner Love, Leo Moura,
Bruno, Petkovic e todo o álbum de
figurinhas, correndo e driblando
cones na areia, a dois metros do
passeio. Alguns transeuntes pararam para espiar. Ao fim, os jogadores deram autógrafos, deixaram-se
fotografar, tomaram o ônibus do
clube e foram à vida.
Nem era a primeira vez que o clube mais popular do Brasil se exercitava ali, quase na rua. Aliás, não faz
muito, era comum ver Romário,
Edmundo e Renato Gaúcho jogando futevôlei em Ipanema nas folgas
de seus clubes. E, até aquele episódio com o travesti, Ronaldo Fenômeno podia circular sem causar
qualquer distúrbio -como, antes
dele, Zico, Garrincha, Zizinho ou
Leônidas. Ou Tom Jobim, Chico
Buarque, Fernanda Montenegro.
Não é esnobismo, é hábito. O Rio
convive com figurões desde que era
sede da Colônia e do Vice-Reino,
capital do Império e da República e
habitat das estrelas do teatro de revista, da Rádio Nacional e da TV
Globo. E de personalidades como
Brigitte Bardot, que, depois de provocar algum tumulto ao chegar em
1964, logo passou a ser saudada
com a frase, "Ih, lá vem a chata da
Brigitte!".
Já existiam revistecas como "Escândalo" e "Confidencial", que viviam de futricas, mas a imprensa se
dava relativamente ao respeito.
Nunca ocorreria à "Manchete" ou
mesmo à "Revista do Rádio" plantar fotógrafos atrás de árvores para
flagrar indiscrições.
Hoje os famosos servem de pasto
para os paparazzi no Leblon e na
Barra. Mas o Rio é inocente. Tais
fotos alimentam revistas feitas longe daqui, para leitores de outras
plagas, siderados por celebridades
que o carioca vê todo dia ao vivo
sem se alterar.
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