São Paulo, domingo, 14 de maio de 2006

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DE OLHO NO ÁLCOOL

Diante da alta persistente do preço do petróleo, o governo americano busca alternativas para reduzir o preço médio do galão (3,8 litros) de gasolina, atualmente em US$ 3,50 (cerca de R$ 7,20). O volume de produção de etanol a partir do milho nos EUA é quase igual ao do Brasil (cerca de 16 milhões de litros).
No entanto a produção doméstica corresponde a pouco mais de 10% dos 140 milhões de galões de gasolina consumidos. O país amplia a produção anual de etanol em 25%, com grandes subsídios governamentais a agricultores e usineiros -projeta-se um consumo da ordem de 28 milhões de litros para o ano de 2012.
Diante disso, o presidente George W. Bush iniciou negociações no Congresso para reduzir a tarifa de importação de US$ 0,55 por galão de álcool. A proposta deve enfrentar muita resistência, sobretudo no Comitê de Finanças do Senado, cujo presidente representa os fazendeiros do Meio-Oeste, produtores de etanol de milho. Para a bancada ruralista republicana, os EUA estariam recuando em seus esforços para alcançar a independência energética.
A decisão poderia ampliar significativamente o volume importado do Brasil, cuja produção é uma das mais competitivas do mundo. De acordo com o Ministério da Agricultura, o custo de produção do litro de etanol de milho alcança US$ 0,30 nos EUA. Já o litro do álcool brasileiro, da cana-de-açúcar, sai a US$ 0,20.
A produção brasileira demonstra relativo dinamismo com a expansão dos carros bicombustíveis. A estimativa para 2010 indica aumento da produção de 180 milhões de toneladas de cana-de-açúcar. Para processar essa oferta crescente de matéria-prima, há estudos de viabilidade para mais de 80 novas usinas, bem como para a ampliação da capacidade instalada das usinas existentes.
Uma redução das barreiras de importação do etanol nos EUA poderia duplicar o volume exportado pelo Brasil até 2010. Em curto prazo, a chance de a medida ser aprovada no Congresso americano é pequena -em novembro, o país renova parte dos legisladores. Mas, ainda assim, governo e produtores brasileiros devem permanecer atentos ao processo. É importante objetivar um acesso duradouro ao mercado americano.
Não se deve esquecer também a necessidade de desenvolver meios mais eficazes, no Brasil, de regular estoques e manter os investimentos no setor sucroalcooleiro a fim de consolidar a produção doméstica e evitar a volatilidade dos preços, como ocorreu no início deste ano. O aumento das exportações, sem estoques reguladores, pode ampliar essa vulnerabilidade na oferta de etanol.


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