|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
ELIANE CANTANHÊDE
Desintegração
BRASÍLIA - A idéia era consolidar o
Mercosul (Brasil, Argentina, Paraguai e Uruguai) e a CAN (os andinos
Venezuela, Colômbia, Bolívia, Peru e
Equador) para chegar à união de toda a região, sob o simpático nome de
Casa -ou Comunidade Sul-Americana de Nações, abrangendo o Chile.
Mas o que se vê são todos disputando contra todos, com um eixo central:
Hugo Chávez, movido a um expansionismo que chama de "bolivariano" e financiado a petróleo.
Chávez disparava contra os EUA,
passou a investir contra a Colômbia,
agora vira as baterias contra o Peru e
não há um só diplomata brasileiro
que duvide de que está por trás da
guerra que o boliviano Evo Morales
declarou contra o Brasil.
É assim que Chávez implode a
CAN, ameaça o Mercosul e inviabiliza o sonho da Casa, deixando Lula,
Celso Amorim e Marco Aurélio Garcia sem saber o que fazer e nem ao
menos o que dizer.
Astuto, Chávez primeiro arvorou-se o grande amigo, abrindo as portas
às empresas brasileiras. Depois, virou
sócio do Mercosul, com apoio entusiasmado do Brasil. Agora, usa Evo
Morales e a Bolívia para fazer o que
ele próprio e a Venezuela não podem
fazer: constranger o Brasil.
Se fossem Chávez, o guerreiro, e a
Venezuela, rica e jorrando petróleo,
dava para o governo brasileiro partir
para o "porrete", como diz Amorim.
Mas em sendo Morales, o cocaleiro, e
a Bolívia, a pobrezinha, o Planalto fica no fio da navalha.
Para completar, há a disputa da
Argentina com o Uruguai pela construção de fábricas na fronteira. E
ninguém desconhece que Tabaré
Vázquez não dá bola para o Mercosul e está louco para um bom acordo
para a carne uruguaia nos EUA.
Aliás, a idéia era desconstruir a Alca e construir a Casa. A Alca ruiu, a
Casa não subiu, é cada um por si.
Quem deu de ombros à geopolítica e
fez acordos pragmáticos com os americanos se deu bem. Deu o oposto do
que se queria: a desintegração.
PS - Saio de férias. Até junho!
@ - elianec@uol.com.br
Texto Anterior: São Paulo - Clóvis Rossi: Montanha-russa Próximo Texto: Rio de Janeiro - Carlos Heitor Cony: O cavalo e o bufão Índice
|