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FERNANDO RODRIGUES
O papa e os brasileiros
BRASÍLIA - Exceto por sua declaração contra os crimes do narcotráfico, a agenda de Bento 16 no Brasil foi toda negativa e conservadora.
Compreensível. Aborto e camisinha apareceram da maneira católica mais convencional.
É uma incógnita o efeito desse
discurso ortodoxo sobre o rebanho
de brasileiros católicos no futuro.
Mas talvez não seja um absurdo
atribuir a esse tom pesadão de Bento 16 pelo menos uma conseqüência
imediata: o público relativamente
decepcionante em algumas de suas
aparições.
Gente da Igreja Católica falava
em 1,5 milhão de pessoas na missa
em que frei Galvão virou santo.
Com muita bondade, olhando as fotos panorâmicas, ali não havia nem
perto de 1 milhão de fiéis.
Ontem, na tão alardeada missa
dominical de Aparecida, o público
teria sido de aproximadamente 150
mil. Antes do evento, falava-se
abertamente em meio milhão.
Não houve, por óbvio, um fracasso de público. Mas alguma coisa estava fora do lugar. Ficou faltando.
Uma reportagem de Diogo Pinheiro para o UOL News retratou à
perfeição o misto de entusiasmo e
indiferença na visita papal. Pessoas
se aglomeravam esperando Bento
16 no sábado nas ruas de Guaratinguetá e de Potim, cidades paulistas.
Foi uma aparição relâmpago. Os vidros do automóvel fechados. Poucos o enxergaram.
Uma mulher de cabelos brancos
não viu o papa. Resignou-se: "O que
importa é a emoção de a gente estar
aqui. Vendo que ele está aqui passando perto da gente. Essa é uma
emoção muito grande".
Crianças no local eram mais frias.
Um deles, obrigado a estar ali com
os pais, foi claro: "Preferia ir jogar
bola". Há um evidente abismo geracional a ser resolvido pela Igreja
Católica. Os jovens de hoje dão indícios de que serão menos resignados no futuro diante dos dogmas
defendidos hoje por Bento 16.
frodriguesbsb@uol.com.br
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