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SERGIO COSTA
No rastro de Ratzinger
RIO DE JANEIRO - Com Bento
16, roga-se tenha tomado o caminho de volta à Santa Sé um conjunto de discussões bizantinas que estiveram em cartaz nas últimas semanas. Debates que estariam mais
bem situados, no mínimo, em outro
início de século: o passado.
Sobre aborto, por exemplo. O ministro José Gomes Temporão, com
toda sua tradição familiar luso-católica, foi a voz da lucidez. É tema
para ser visto com bem mais delicadeza do que andou sendo tratado. O
Estado não assume o problema,
mas o mercado há muito o absorveu. Quem, em qualquer classe, não
sabe onde se faz aborto na sua cidade? E a que preço? O mais caro, talvez, seja o da pura hipocrisia.
A questão a ser encarada é de saúde pública. Pais, mães, avós, tias, filhas adolescentes, sogras -boas ou más- têm decidido por si, independentemente de lei ou crença, o rumo a tomar em caso de gravidez de
risco, inoportuna ou incompatível
com orçamentos e perspectivas familiares. Estado e igreja fecham os
olhos. Quem se responsabiliza?
Outros temas tratados com lupa
até ontem, como sexualidade, castidade, separação de casais ou mesmo o "ficar" da garotada, dão até
preguiça -ou tédio. Soam desrespeitosos às conquistas de liberdades individuais e coletivas dos anos
60, 70, 80... O mundo gira.
Aliás, "ficar" já foi. O que meninos e meninas conjugam e colecionam é o verbo "pegar". Se algo lhes
falta, é melhor qualidade em educação (sexual inclusive). A Igreja Católica não anda vazia à toa. Além de minimizar o discurso social, parece
sofrer de incapacidade crônica para
atender a demandas existenciais
em tempo real. Não precisa distribuir camisinhas, mas condenar seu
uso na era da Aids e de outras
DSTs? Alguém mais sensato ousaria: "Perdoai-vos, Senhor. Pois eles
não sabem o que fazem". Muitos,
parecem, há séculos.
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