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CLÓVIS ROSSI
Todos fazem, alguns têm vergonha
SÃO PAULO - Todo político é ladrão, diz a sabedoria popular -e
não apenas no Brasil. Lembro até
hoje que meu avô italiano resmungava constantemente "piove, governo ladro", sem que eu entendesse o que tinha a ver a chuva com o
fato de o governo ser ladrão.
A generalização é injusta, como
quase todas. Mas os políticos do
mundo todo fazem um baita esforço para dar razão a ela. Pegue-se o
que está acontecendo no Reino
Unido: faz seis dias, o "Daily Telegraph" publica a versão local do escândalo das "verbas indenizatórias", que tão bem conhecemos.
Os "honoráveis membros do Parlamento" pedem reembolso por
gastos em suas segundas casas. Vão
de comida para cachorro a filme
pornô, passando pelos gastos com a
faxina da casa do primeiro-ministro, Gordon Brown (a segunda casa,
não a que morava como responsável pelo Tesouro ou como premiê,
ambas em Downing Street).
Mas, antes que o brasileiro acomodado e conformista absolva nossos "honoráveis", comparemos reações. Lá, Brown pediu publicamente desculpas em nome de toda a
classe política. Aqui, Luiz Inácio
Lula da Silva desculpa todos a partir
da teoria de que "todos fazem", logo, não há que o condenar.
Lá, o presidente da Câmara dos
Comuns disse que os gastos passarão a ser auditados por um organismo independente. Aqui, ataca-se a
única e precária auditoria externa,
que é a mídia.
Aqui, os pais da pátria acomodam
as coisas com a alegação de que não
é ilegal o uso, por exemplo, de passagens aéreas, mesmo que seja para
parentes etc. Lá, Michael Martin, o
Michel Temer deles, diz: "Trabalhar de acordo com as regras não é o
único que se espera dos honoráveis
membros; é importante que se imponha também o espírito do que é
correto".
Trambiques, portanto, há em todo lado. Mas em alguns lados ainda
se sente vergonha.
crossi@uol.com.br
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