São Paulo, quinta-feira, 14 de maio de 2009

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ELIANE CANTANHÊDE

Alvo errado, na hora errada

BRASÍLIA - Sinceramente, não dá para entender mais nada:
1) Dois sujeitos de terno e gravata estacionam um carro, caminham calmamente até a agência bancária do Quartel General do Exército, no Setor Militar Urbano de Brasília, rendem um general fardado, roubam R$ 8 mil e passam por câmaras de vídeos e barreiras sem serem incomodados. Vexame.
2) Ladrões invadem o 6º Batalhão de Infantaria Leve de Caçapava (SP), prendem um cabo e os soldados e levam embora sete fuzis e 140 cartuchos. Saem como entraram, sem resistência. Outro vexame.
3) E aquele tenente do Rio, o que entregou três jovens para serem trucidados por uma quadrilha de bandidos conhecidos e de alta periculosidade, ainda está pairando sobre consciências e escolas de formação de quadros militares.
Em meio a isso, os "presidenciáveis" Dilma Rousseff e José Serra, dois adversários do regime militar, se reúnem em Brasília para o anúncio do projeto de lei que pretende garantir o acesso a documentos públicos. Um dos objetivos é abrir a documentação do regime militar, trancafiada sabe-se lá exatamente por quem, sabe-se lá exatamente onde. Enquanto o governo cria uma comissão (mais uma!) para procurar os restos mortais de militantes assassinados na ditadura.
Juntando-se tudo isso, é fora de tom, de oportunidade e de hierarquia o general Paulo César de Castro sair justamente do Departamento de Educação e Cultura do Exército para a reserva atirando.
Em resumo, enalteceu a ditadura e o general Médici e condenou "os arautos da sarna marxista" e até as cotas para universidades.
Enquanto eram oficiais de pijama em clubes militares, vá lá. Mas Castro engrossa a lista de generais em transição para a reserva que saem atirando contra os velhos adversários de esquerda que detêm o poder civil hoje e provavelmente deterão amanhã. Melhor seria que mudassem o alvo: falassem menos e cuidassem mais dos seus quartéis.

elianec@uol.com.br


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