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São Paulo, segunda-feira, 14 de julho de 2003

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DRAMA MEXICANO

O acordo de livre comércio entre os EUA, o Canadá e o México é uma das mais imponentes construções geopolíticas contemporâneas, comparável apenas ao projeto de unificação européia.
No entanto os efeitos do Nafta (Acordo de Livre Comércio da América do Norte) sobre o México, o mais pobre dos parceiros, têm sido alvo de críticas cada vez mais severas.
Ao contrário da entrada do país pobre num círculo privilegiado de relações comerciais com o vizinho de fronteira, houve uma evasão de empresas que, a despeito da proximidade física com os mercados dos EUA, optaram por transferir suas linhas de produção para espaços onde o custo salarial é ainda mais baixo.
Nos últimos dois anos, 540 montadoras abandonaram a fronteira em busca de custos menores, principalmente na Ásia, devastada por desvalorizações cambiais extraordinárias depois da crise tailandesa de 1997. Foram perdidos 200 mil empregos em decorrência da fuga dessas empresas -as "maquilladoras".
Há dez anos, o México era vendido quase como um novo Estado norte-americano tamanha a crença nos benefícios que o Nafta traria ao país. Hoje, mais da metade de sua população ainda vive na pobreza.
A fé na capacidade de as exportações levarem os países mais pobres ao desenvolvimento sustentável também sai arranhada quando se estudam os resultados do projeto mexicano. Os setores exportadores foram os que mais sofreram com a crise.
Não basta exportar. É preciso que as exportações sejam feitas com base numa política industrial e tecnológica virtuosa. Apostar no "modelo exportador" com base em salários supostamente imbatíveis, por tão baixos, é uma ilusão desmascarada pela competição asiática.
É crucial aprender as lições desse drama mexicano, especialmente agora que o governo brasileiro dá sinais de abandonar o discurso crítico sobre a Alca e acena com uma adesão ao cronograma de integração desejado pelo governo dos EUA.


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