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São Paulo, segunda-feira, 14 de julho de 2003

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FERNANDO RODRIGUES

A gênese do recuo

BRASÍLIA - O início do recuo e a falta de convicção ideológica do governo Lula na reforma da Previdência ficaram evidentes no enterro de um assunto espinhoso que atende por uma sigla não menos esquisita: PL 9.
É o projeto de lei complementar já aprovado pela Câmara em 2000, mas que continua parado por causa do pedido de votação em separado de três frases do texto que não agradam a PT, PC do B, PDT e PSB.
Ao assumir, o governo Lula sinalizou que apoiaria o PL 9. Em seguida, promoveu o enterro do assunto.
O que estabelece esse projeto? Que União, Estados e municípios poderão criar fundos de pensão complementares para futuros funcionários públicos. Os novos servidores receberiam a aposentadoria básica do INSS (como trabalhadores da iniciativa privada) e mais o adicional a ser produzido pelo fundo de pensão.
Por que o PT era contra o PL 9 em 2000? Porque o projeto estabelece que os fundos de pensão devem ser pelo sistema de contribuição definida. O PT queria benefício definido.
Com o benefício definido, se o fundo criado entre trabalhador (servidor público) e patrão (Estado) não dá o lucro desejado, quem paga é o Tesouro Nacional. Pelo sistema de contribuição definida, se faltar dinheiro, paciência -a pensão é de acordo com a rentabilidade da aplicação.
Ao montar o texto da reforma da Previdência, o governo fez um truque. Disse que iria constitucionalizar o PL 9. Mentiu. Deixou de fora a obrigação de os novos fundos de pensão serem por contribuição definida.
Ficou tudo em aberto. Quem definirá a modalidade dos futuros fundos de pensão serão as milhares de Câmaras de Vereadores e as 26 Assembléias Legislativas. Podem prometer salário integral na aposentadoria e outras temeridades. Os efeitos serão conhecidos daqui a 20 anos.
É por essa razão que o PT foge do assunto. A prioridade é jogar para a platéia. Agradar corporações, aprovar uma reforma meia-sola e garantir a reeleição de Lula em 2006.


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