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CARLOS HEITOR CONY
A mentira e a ameaça
RIO DE JANEIRO - Até hoje se discute o conhecimento prévio do ataque a
Pearl Harbor, em 1941, que deu pretexto a que os Estados Unidos entrassem na Segunda Guerra. A direita radical, para desmanchar o mito criado
em torno de Roosevelt, volta e meia
brande um documento provando
que o presidente sabia do ataque japonês, mas não tomou nenhuma
providência para impedi-lo, a fim de
obter o consenso da nação sobre a necessidade de agir numa guerra que,
inicialmente, não era dela.
Não foram necessários muitos anos
para que o mundo ficasse sabendo
oficialmente o que já se sabia por
simples intuição. No último conflito
em que entraram, os Estados Unidos
sabiam que o seu presidente estava
mentindo, que a CIA o informara erroneamente, corrigira o erro antes da
guerra, mas o governo preferiu ficar
com a informação errada para invadir o Iraque e se apoderar da segunda
maior reserva de petróleo do mundo.
Nada me espanta nas últimas revelações que estão surgindo na mídia
internacional sobre o episódio das armas letais com que o Iraque iria destruir a civilização ocidental. Espantosa é a mudança no perfil puritano
dos Estados Unidos, que considerava
a mentira um crime hediondo.
Nixon enfrentou a ameaça de um
impedimento e foi obrigado a renunciar pela pressão da opinião pública
por ter mentido à nação. Se tivesse
admitido o seu conhecimento no caso
Watergate, não teria sofrido o vexame que passou. Foi obrigado até a
mudar de residência, pois os vizinhos
não mais suportavam um mentiroso
público e oficial no mesmo prédio.
Pelo que sabemos, a taxa de aprovação do povo norte-americano à invasão do Iraque permanece alta e,
em decorrência, acredita-se que o
presidente Bush vá pegar as sobras
desse apoio popular.
E esse apoio é que, além do espanto
que nos provoca, se torna uma real
ameaça a todas as nações e indivíduos da face da Terra.
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