UOL




São Paulo, segunda-feira, 14 de julho de 2003

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

CARLOS HEITOR CONY

A mentira e a ameaça

RIO DE JANEIRO - Até hoje se discute o conhecimento prévio do ataque a Pearl Harbor, em 1941, que deu pretexto a que os Estados Unidos entrassem na Segunda Guerra. A direita radical, para desmanchar o mito criado em torno de Roosevelt, volta e meia brande um documento provando que o presidente sabia do ataque japonês, mas não tomou nenhuma providência para impedi-lo, a fim de obter o consenso da nação sobre a necessidade de agir numa guerra que, inicialmente, não era dela.
Não foram necessários muitos anos para que o mundo ficasse sabendo oficialmente o que já se sabia por simples intuição. No último conflito em que entraram, os Estados Unidos sabiam que o seu presidente estava mentindo, que a CIA o informara erroneamente, corrigira o erro antes da guerra, mas o governo preferiu ficar com a informação errada para invadir o Iraque e se apoderar da segunda maior reserva de petróleo do mundo.
Nada me espanta nas últimas revelações que estão surgindo na mídia internacional sobre o episódio das armas letais com que o Iraque iria destruir a civilização ocidental. Espantosa é a mudança no perfil puritano dos Estados Unidos, que considerava a mentira um crime hediondo.
Nixon enfrentou a ameaça de um impedimento e foi obrigado a renunciar pela pressão da opinião pública por ter mentido à nação. Se tivesse admitido o seu conhecimento no caso Watergate, não teria sofrido o vexame que passou. Foi obrigado até a mudar de residência, pois os vizinhos não mais suportavam um mentiroso público e oficial no mesmo prédio.
Pelo que sabemos, a taxa de aprovação do povo norte-americano à invasão do Iraque permanece alta e, em decorrência, acredita-se que o presidente Bush vá pegar as sobras desse apoio popular.
E esse apoio é que, além do espanto que nos provoca, se torna uma real ameaça a todas as nações e indivíduos da face da Terra.


Texto Anterior: Brasília - Fernando Rodrigues: A gênese do recuo
Próximo Texto: Boris Fausto: As pedras no caminho
Índice


UOL
Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.