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TENDÊNCIAS/DEBATES
A Unasul pode desempenhar papel relevante
nas relações entre Colômbia e Venezuela?
SIM
Organização pode e deve mediar conflitos
SÉRGIO PAULO MUNIZ COSTA
É positivo o jogo de cena do imbróglio colombiano-venezuelano.
Por ora, optou-se por não queimar
as pontes, mesmo com as motivações maquiadas pelas conveniências do poder. Porém, desse mais
recente capítulo-crise da realidade
sul-americana emergiu uma inevitabilidade: não há como negar o papel central do Brasil, por qualquer
ângulo que se aprecie o cenário.
Mas não há também como desconsiderar que o crescimento econômico do Brasil, independentemente de sua qualidade, atrairá para o seu espaço as aspirações dos
povos das nações vizinhas.
Sem um desenvolvimento regional compartilhado segundo as respectivas vocações e identidades,
será impossível evitar o encontro de
desequilíbrios socioeconômicos
exponencialmente ampliados à escala continental.
A integração sul-americana não
é uma opção, é um imperativo.
A Unasul (União de Nações Sul-Americanas) pode contribuir para a
superação de conflitos na América
do Sul simplesmente por atender a
uma necessidade de integração
confluente aos vários interesses regionais e se equilibra bem entre os
extremos da imposição e da rejeição. Mas há condições para isso.
Menos um fato político do que
um projeto promissor, o organismo
proposto pelo Brasil tem que assumir o desafio de aprofundar o vínculo democrático neste tempo histórico em que velhos fantasmas
ressurgem.
É difícil justificar e aceitar ações
de quem suprime as regras de sucessão e dissenso democrático que
lhes garantiram a ascensão ao poder. Não é apenas a ruptura institucional do golpe e a sua forma mais
ou menos violenta que o condenam, mas particularmente o que
dele resulta na supressão da democracia representativa entronizada
no Estado de Direito.
Com ela, crises intermináveis se
superam para reiterá-la. Fora dela,
só existe o poder pela força que cinde a sociedade.
Assegurado esse consenso, por
certo haverá ainda muito trabalho
até que a Unasul cumpra o seu papel, a começar pela estruturação da
defesa e segurança de maneira a esvaziar o componente militar de
qualquer tensão local, enfrentar as
ameaças comuns aos países da região e prevenir agressões externas.
O Brasil não pode se furtar a esse
compromisso político, estratégico e
operacional, e para tanto as suas
políticas externa e de defesa têm
que se confirmar como de Estado,
assegurando continuidade e credibilidade à sua atuação.
A Unasul não só pode como deve
mediar e solucionar o conflito entre
Colômbia e Venezuela e mais os a
ele subjacentes.
Urgência e oportunidade indicam que é o momento de fazer para
se organizar, e não o contrário convencionalmente aceito.
Há experiências bem-sucedidas
assimiladas em realidades distintas, boas tradições político-militares de missões de paz e principalmente um alinhamento estratégico
no Cone Sul que pode perfeitamente inspirar outro mais amplo sul-americano.
Em certo momento de divergências no desenvolvimento dos trabalhos na Junta Interamericana de
Defesa, um oficial boliviano não se
furtou a externar sua conclusão sobre o relacionamento entre os colegas das nações sul-americanas,
com algumas das quais o seu país
tinha dificuldades não superadas:
"Nossos ódios são fracos".
Se os ódios são fracos, não há por
que reinventá-los. Caso faltassem à
Unasul outras razões para existir, aí
está uma para ela agir antes que
eles surjam.
SÉRGIO PAULO MUNIZ COSTA é historiador. Foi
delegado do Brasil na Junta Interamericana de
Defesa, órgão de assessoria da OEA (Organização
dos Estados Americanos) para assuntos de
segurança hemisférica.
Os artigos publicados com assinatura não traduzem a opinião do jornal. Sua publicação obedece ao propósito de estimular o debate dos problemas brasileiros e mundiais e de refletir as diversas tendências do pensamento contemporâneo. debates@uol.com.br
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