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DERROTA DE ARAFAT
Iasser Arafat sofreu, nesta semana, uma importante derrota.
Todo o seu gabinete, nomeado há
pouco, teve de renunciar para não sofrer um voto de desconfiança do Parlamento palestino. Embora as pesquisas de opinião coloquem Arafat
como favorito para vencer a eleição
presidencial de janeiro, sua liderança
vem sendo objeto de crescente contestação, e não apenas por facções
radicais como Hamas e Jihad. A
ameaça do voto de desconfiança partiu da própria Fatah (o grupo de Arafat) que domina o Parlamento.
Fora do "front" doméstico, a situação não é mais tranquila. Arafat tenta
como pode equilibrar-se. Em discurso ao Parlamento, o líder palestino
afirmou: "Depois de 50 anos de luta e
sofrimento sangrento, já basta. Basta
de luta e basta de sangue". Apesar de
declarações com esse teor não serem
inéditas da parte de Arafat, fazia muito tempo que o líder palestino não dizia nada semelhante. Ele também
condenou os atentados suicidas contra civis israelenses e disse que a paz
com Israel ainda é possível.
Alguns meses atrás palavras como
essas teriam trazido um impacto positivo sobre o processo de paz no
Oriente Médio. Mas a situação se deteriorou a tal ponto que são poucos
os que, do lado israelense, ainda dão
valor ao que afirma o líder palestino.
Quase tão importante quanto o que
disse Arafat é analisar o que ele não
falou. E o que ele não fez foi anunciar
uma ampla reestruturação na hierarquia da ANP (Autoridade Nacional
Palestina), como queriam os EUA e,
por extensão, Israel. Afirmando que
a ANP tornou-se muito corrupta e
pouco democrática, Washington
pretende que a Presidência da ANP
ceda poderes para um posto de premiê, a ser criado, entre outras modificações. Isso deixaria Arafat como
uma figura quase decorativa.
É inegável que a ANP tornou-se terreno fértil para a corrupção. É igualmente certo que a ANP não é um
exemplo de democracia. Ainda assim, Arafat é a legítima liderança dos
palestinos. Não cabe aos EUA nem a
Israel definir quem deve representar
esse povo. Por menos confiável que
Arafat tenha se mostrado, é com ele
que Israel precisa negociar.
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