São Paulo, sábado, 14 de setembro de 2002

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DERROTA DE ARAFAT

Iasser Arafat sofreu, nesta semana, uma importante derrota. Todo o seu gabinete, nomeado há pouco, teve de renunciar para não sofrer um voto de desconfiança do Parlamento palestino. Embora as pesquisas de opinião coloquem Arafat como favorito para vencer a eleição presidencial de janeiro, sua liderança vem sendo objeto de crescente contestação, e não apenas por facções radicais como Hamas e Jihad. A ameaça do voto de desconfiança partiu da própria Fatah (o grupo de Arafat) que domina o Parlamento.
Fora do "front" doméstico, a situação não é mais tranquila. Arafat tenta como pode equilibrar-se. Em discurso ao Parlamento, o líder palestino afirmou: "Depois de 50 anos de luta e sofrimento sangrento, já basta. Basta de luta e basta de sangue". Apesar de declarações com esse teor não serem inéditas da parte de Arafat, fazia muito tempo que o líder palestino não dizia nada semelhante. Ele também condenou os atentados suicidas contra civis israelenses e disse que a paz com Israel ainda é possível.
Alguns meses atrás palavras como essas teriam trazido um impacto positivo sobre o processo de paz no Oriente Médio. Mas a situação se deteriorou a tal ponto que são poucos os que, do lado israelense, ainda dão valor ao que afirma o líder palestino.
Quase tão importante quanto o que disse Arafat é analisar o que ele não falou. E o que ele não fez foi anunciar uma ampla reestruturação na hierarquia da ANP (Autoridade Nacional Palestina), como queriam os EUA e, por extensão, Israel. Afirmando que a ANP tornou-se muito corrupta e pouco democrática, Washington pretende que a Presidência da ANP ceda poderes para um posto de premiê, a ser criado, entre outras modificações. Isso deixaria Arafat como uma figura quase decorativa.
É inegável que a ANP tornou-se terreno fértil para a corrupção. É igualmente certo que a ANP não é um exemplo de democracia. Ainda assim, Arafat é a legítima liderança dos palestinos. Não cabe aos EUA nem a Israel definir quem deve representar esse povo. Por menos confiável que Arafat tenha se mostrado, é com ele que Israel precisa negociar.


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