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CLÓVIS ROSSI
O festejo da mediocridade
SÃO PAULO - Se alguém precisasse de um curso intensivo de Brasil, mas
não estivesse disposto a perder muito
tempo, bastaria ler dois títulos da capa de ontem desta Folha.
O de cima dizia: "Renda das famílias cai pela quarta vez seguida", conforme os dados do IBGE. O de baixo
informava: "Lucro dos bancos sobe
45% e atinge R$ 9,7 bi, revela BC".
Pronto, é o instantâneo definitivo
de como o andar de baixo e o andar
de cima terminam no governo Fernando Henrique Cardoso.
Seria dispensável adicionar uma só
palavra, se o próprio presidente não
tivesse tentado se defender por meio
de comentários aos dados divulgados
pelo IBGE.
Aí, entalou-se de uma boa vez na
sua "utopia do possível", que vem a
ser a rendição ao conformismo ou a
definitiva vitória da mediocridade
sobre a ousadia.
Primeiro, FHC quase celebra o fato
de que o aumento do desemprego,
desde o Plano Real, não chega aos 10
milhões ou 12 milhões esgrimidos pela oposição. É "só" de 3,4 milhões.
Ora, para quem fez campanha eleitoral, em 1998, dizendo que havia
acabado com a inflação no período
anterior e, no subsequente, acabaria
com o desemprego, um só desempregado a mais já seria violação da palavra empenhada.
Depois, FHC, de novo, celebra o fato de que não houve aumento da
concentração de renda. Em qualquer
circunstância, nem avançar nem retroceder não é um sucesso.
Mas, no caso brasileiro, a manutenção dos índices atuais significa que o
Brasil permanece entre os quatro
países com mais obscena concentração de renda, só superado por Suazilândia, Serra Leoa e República Centro-Africana.
Alguma surpresa com o fato de que
há mais brasileiros (34%) achando o
governo "ruim/péssimo" do que "ótimo/bom" (26%)?
Algo me diz que, se a pesquisa fosse
só na Febraban, o resultado seria
bem diferente.
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