São Paulo, sábado, 14 de setembro de 2002

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CLÓVIS ROSSI

O festejo da mediocridade

SÃO PAULO - Se alguém precisasse de um curso intensivo de Brasil, mas não estivesse disposto a perder muito tempo, bastaria ler dois títulos da capa de ontem desta Folha.
O de cima dizia: "Renda das famílias cai pela quarta vez seguida", conforme os dados do IBGE. O de baixo informava: "Lucro dos bancos sobe 45% e atinge R$ 9,7 bi, revela BC".
Pronto, é o instantâneo definitivo de como o andar de baixo e o andar de cima terminam no governo Fernando Henrique Cardoso.
Seria dispensável adicionar uma só palavra, se o próprio presidente não tivesse tentado se defender por meio de comentários aos dados divulgados pelo IBGE.
Aí, entalou-se de uma boa vez na sua "utopia do possível", que vem a ser a rendição ao conformismo ou a definitiva vitória da mediocridade sobre a ousadia.
Primeiro, FHC quase celebra o fato de que o aumento do desemprego, desde o Plano Real, não chega aos 10 milhões ou 12 milhões esgrimidos pela oposição. É "só" de 3,4 milhões.
Ora, para quem fez campanha eleitoral, em 1998, dizendo que havia acabado com a inflação no período anterior e, no subsequente, acabaria com o desemprego, um só desempregado a mais já seria violação da palavra empenhada.
Depois, FHC, de novo, celebra o fato de que não houve aumento da concentração de renda. Em qualquer circunstância, nem avançar nem retroceder não é um sucesso.
Mas, no caso brasileiro, a manutenção dos índices atuais significa que o Brasil permanece entre os quatro países com mais obscena concentração de renda, só superado por Suazilândia, Serra Leoa e República Centro-Africana.
Alguma surpresa com o fato de que há mais brasileiros (34%) achando o governo "ruim/péssimo" do que "ótimo/bom" (26%)?
Algo me diz que, se a pesquisa fosse só na Febraban, o resultado seria bem diferente.


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