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ELIANE CANTANHÊDE
O que é isso, companheira?
BRASÍLIA - O que a psicóloga e sexóloga Marta Suplicy pensa da propaganda eleitoral da candidata
Marta Suplicy? Esta é a pergunta
que não quer calar, depois que a sua
campanha na TV recomeçou no domingo com uma provocação venenosa, carregada de insinuações e de
preconceito: Gilberto Kassab, do
DEM, é casado? Tem filhos?
Marta é uma mulher de vanguarda, tem uma história conectada às
boas causas: à defesa das mulheres,
dos homossexuais, das minorias.
Pode, muito bem, sofrer uma derrota e continuar em frente, de cabeça
erguida, na vida e na política. O que
não pode é, em razão do desespero
eleitoral, jogar fora sua imagem e
seu passado para permitir e avalizar
uma agressão absurda, inacreditável, muito mais própria de Maluf do
que de Marta.
Em tese, campanhas se fazem
com propostas, contrapontos, convencimento. Na prática, são duras,
às vezes agressivas. Mas não devem
chegar a extremos que remetem a
um outro de péssima lembrança:
Collor usando Lurian contra Lula
em 1989. Nem os próprios aliados
podem aceitar esse tipo de coisa.
Lembrar a participação de Kassab no governo Maluf? Correto. Bater na tecla de que ele continuou
com Pitta? Perfeito. Mas descambar para a baixaria de questionar
subliminarmente a sexualidade do
adversário? Faça-me o favor! E logo
Marta Suplicy?! O risco é sair da
campanha menor do que entrou.
Há derrotas e derrotas. Os 17
pontos de diferença de Kassab para
Marta indicam que ela vai perder
nas urnas. Mas perde mais com a
propaganda do "é casado, tem filhos?". Muito mais, inclusive, do
que com o "relaxa e goza", que foi
um escorregão, um desses excessos
a que qualquer um está sujeito.
O "é casado, tem filhos?" não foi
escorregão, é estratégia. Preconceituosa e burra. Não ganha eleitores à
direita e perde apoios, votos e simpatia à esquerda. Além de desagregar a militância e transformar o adversário em vítima.
elianec@uol.com.br
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