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ELIANE CANTANHÊDE
Inflexão
BRASÍLIA - A agressividade, ops!, a
"assertividade" de Dilma Rousseff
no debate da Band marcou uma nítida inflexão na sua campanha e
veio para ficar. Os programas do PT
estão mais pesados, forçando a
comparação entre o governo de Lula e o de FHC e insistindo que os tucanos privatizam até a mãe. A Dilma boazinha já era.
Já o Serrinha reforça o gênero paz
e amor, apesar dos rompantes. Surpreendido pela reviravolta da adversária, parece no segundo turno
um padre pregando a união entre
todos os irmãos.
Se Dilma é objetiva, Serra está
subjetivo. Ela fala em Bolsa Família
e Luz Para Todos, programas que
atingem diretamente a "vida das
pessoas" -expressão que sempre
repete para engatilhar os 28 milhões que saíram da miséria. Ele
responde com conceitos abstratos:
"caráter", "verdade", "coerência",
"honestidade". Além disso, se Dilma se esforça para falar e para mostrar gente, Serra insiste em falar de empresas e de investimentos.
Num movimento pendular, Lula
some da propaganda de Dilma, e
Fernando Henrique aparece na de
Serra, como se um já tivesse dado
tudo o que tinha de dar à campanha
e o outro estivesse sendo redescoberto oito anos depois.
Dilma vinha perdendo votos devagar e sempre desde o fim do primeiro turno. Evidentemente, acendeu uma luz amarela na sua candidatura, que deu uma chacoalhada
no jeitão e joga com o confronto.
Serra, que foi favorecido pela
queda de Dilma e principalmente
pela ascensão de Marina Silva, não
chacoalhou nada, optando pelo
personagem sereno e confiável. Devem ter bons motivos -ela para jogar o personagem boa moça fora, e
ele para manter o bom moço no ar.
Com a distância encurtando,
mas ainda bem favorável a Dilma,
ela precisa segurar a sangria, ele
tem de ousar. O problema dos dois
é que, com o tempo apertado, não
dá mais para improvisar nem para
testar. É acertar ou acertar a mão.
elianec@uol.com.br
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