São Paulo, quinta-feira, 14 de novembro de 2002

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DESASTRE NO ENEM

Foi decepcionante o resultado do Enem (Exame Nacional do Ensino Médio) de 2002. A nota média na prova de conhecimentos gerais foi de 34, numa escala que vai de zero a cem -a pior desde que o exame foi instituído, em 1998. Parte nada desprezível dos alunos (74%) está concluindo o ensino médio sem nem sequer compreender o que lê.
A análise do ministro da Educação, Paulo Renato Souza, sobre o desempenho merece consideração. Para Paulo Renato, o aumento da participação de estudantes cujos pais têm baixas escolaridade e renda seria a causa da queda da nota média. Infelizmente, essa é uma triste realidade. Filhos de pessoas mais pobres e sem instrução tendem a se sair pior na escola do que aqueles que recebem estímulos intelectuais desde cedo e podem dedicar-se integralmente aos estudos, sem precisar trabalhar.
Como o Enem não é obrigatório, existem várias explicações plausíveis para a maior procura pela prova entre os mais pobres. Mas, sejam quais forem as razões que justifiquem o fenômeno, o fato, insofismável, é que a qualidade do ensino no Brasil ainda deixa muito a desejar. A sina familiar pode tornar o aprendizado mais difícil, mas não o inviabiliza.
A gestão de Paulo Renato no MEC teve o inegável mérito de praticamente universalizar o ensino fundamental e aumentar o acesso ao médio. Também foi oportuna a introdução de mecanismos de avaliação, como o Enem, que são ferramentas valiosas para a melhoria da qualidade do ensino. Mas fica a sensação de que os vários sistemas de avaliação implementados acabaram se tornando um fim em si mesmo; de que se perdeu de vista a noção de que as deficiências reveladas pelas provas precisam traduzir-se em políticas para professores e diretores nas escolas.
O que se espera do próximo governo é que mantenha e aprimore os métodos de avaliação e que consiga promover o salto qualitativo de que o país tanto necessita.


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