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O protesto dos residentes
AS REIVINDICAÇÕES dos médicos residentes, em greve
desde de 1º de novembro,
são justas. Exigem um reajuste
de 54% no valor da bolsa, que é
hoje de cerca de R$ 1.500 para
uma jornada de 60 horas semanais. Fora o desconto do INSS, o
residente recebe R$ 6 por hora
trabalhada -quantia semelhante à que se paga a auxiliares de
enfermagem.
Na prática, porém, os residentes trabalham mais de 60 horas
semanais. Muitos dão plantões
em outros hospitais, ampliando
bastante sua jornada.
A questão salarial, entretanto,
não é o maior problema. É possível conseguir um aumento, seja
de 50%, como pede a categoria,
seja de 30%, como cogita o governo. Os 17 mil residentes do
país consomem algo como R$
285 milhões anuais, diante de
quase R$ 40 bilhões orçados para a Saúde em 2007. Segundo o
Conselho Federal de Medicina,
residentes respondem por 70%
do atendimento à população.
Aí está a grande distorção. A
residência médica deveria ser
um programa de pós-graduação,
mas se converteu numa fonte de
mão-de-obra barata. Para aprender, o residente precisa atender a
pacientes. Deveria, porém, fazê-lo sob a supervisão de médicos
especialistas, num regime que
lhe permitisse estudar. Nada
mais longe da realidade.
Perde o médico em formação,
mas perde sobretudo o paciente,
que pode ser atendido por um
profissional que não detém condições minimamente desejáveis.
E o poder público (leia-se o contribuinte) arca com um sistema
ineficiente.
Além da questão salarial, portanto, há distorções no modo como de fato funciona a residência
médica que deveriam ser corrigidas. Daí a oportunidade do protesto dos jovens médicos, que
deveria levar as autoridades a
propor reparos na gestão do modelo como um todo.
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