São Paulo, terça-feira, 14 de novembro de 2006

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O protesto dos residentes

AS REIVINDICAÇÕES dos médicos residentes, em greve desde de 1º de novembro, são justas. Exigem um reajuste de 54% no valor da bolsa, que é hoje de cerca de R$ 1.500 para uma jornada de 60 horas semanais. Fora o desconto do INSS, o residente recebe R$ 6 por hora trabalhada -quantia semelhante à que se paga a auxiliares de enfermagem.
Na prática, porém, os residentes trabalham mais de 60 horas semanais. Muitos dão plantões em outros hospitais, ampliando bastante sua jornada.
A questão salarial, entretanto, não é o maior problema. É possível conseguir um aumento, seja de 50%, como pede a categoria, seja de 30%, como cogita o governo. Os 17 mil residentes do país consomem algo como R$ 285 milhões anuais, diante de quase R$ 40 bilhões orçados para a Saúde em 2007. Segundo o Conselho Federal de Medicina, residentes respondem por 70% do atendimento à população.
Aí está a grande distorção. A residência médica deveria ser um programa de pós-graduação, mas se converteu numa fonte de mão-de-obra barata. Para aprender, o residente precisa atender a pacientes. Deveria, porém, fazê-lo sob a supervisão de médicos especialistas, num regime que lhe permitisse estudar. Nada mais longe da realidade.
Perde o médico em formação, mas perde sobretudo o paciente, que pode ser atendido por um profissional que não detém condições minimamente desejáveis. E o poder público (leia-se o contribuinte) arca com um sistema ineficiente.
Além da questão salarial, portanto, há distorções no modo como de fato funciona a residência médica que deveriam ser corrigidas. Daí a oportunidade do protesto dos jovens médicos, que deveria levar as autoridades a propor reparos na gestão do modelo como um todo.


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