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RUY CASTRO
Rei Zulu
RIO DE JANEIRO - Não há criança da década de 1950 que não tenha
brincado o Carnaval ao som de "O
Rei Zulu", a marchinha de Antonio
Nássara e Antonio Almeida lançada
por Blecaute no Carnaval daquele
ano. Discreta, sem nunca estourar,
ela continuou tocada nos salões pelos anos seguintes e falava de um
personagem que todo mundo parecia invejar:
"Rei Zulu-u, o Rei Zulu/ Não paga
casa, nem comida e anda nu/ Pode
não ter dinheiro pra gastar/ Mas
tem mulher pra chuchu./ [Bis]/ Rei
Zulu não precisa/ De dinheiro pra
viver/ Tem casa pra morar/ Comida pra comer/ Mulher pra namorar/ Atrás do murundu/ Vamos saravá, minha gente!/ Salve o Rei Zulu!". E dá-lhe de mais bis.
No tempo do apartheid, os zulus,
como todas as tribos nativas da
África do Sul, passaram o diabo.
Mas só podíamos imaginar, porque,
sob o regime branco, o mundo sabia
pouco sobre eles. Hoje temos mais
informações. Com seus 10 milhões
de cidadãos, são o maior grupo étnico da África do Sul. Vestem-se como uma ala de escola de samba e
não largam mão de certos hábitos
seculares e selvagens. Um, mais conhecido, é a circuncisão de mulheres. Outro, cometido de novo há
pouco, é o sacrifício do touro.
Este consiste em soltar um touro
no cercado e deixar que 40 guerreiros o matem com as próprias mãos,
praticando atrocidades cuja descrição em detalhes estragaria o dia do
leitor. Basta dizer que, durante horas, o martírio do touro é pior que o
das touradas, da farra do boi ou dos
rodeios. A ideia é a de que "a força
da besta se transmita aos guerreiros
e, destes, ao rei".
Mesmos os zulus esclarecidos hesitam em lutar contra essa tradição.
Temem que, se algo grave acontecer ao rei, será porque a força do
touro "não se transferiu" para ele. O
"Rei Zulu" do Blecaute nunca precisou disso e era um homem realizado e feliz.
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