São Paulo, sexta-feira, 15 de janeiro de 2010

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RUY CASTRO

Rei Zulu

RIO DE JANEIRO - Não há criança da década de 1950 que não tenha brincado o Carnaval ao som de "O Rei Zulu", a marchinha de Antonio Nássara e Antonio Almeida lançada por Blecaute no Carnaval daquele ano. Discreta, sem nunca estourar, ela continuou tocada nos salões pelos anos seguintes e falava de um personagem que todo mundo parecia invejar:
"Rei Zulu-u, o Rei Zulu/ Não paga casa, nem comida e anda nu/ Pode não ter dinheiro pra gastar/ Mas tem mulher pra chuchu./ [Bis]/ Rei Zulu não precisa/ De dinheiro pra viver/ Tem casa pra morar/ Comida pra comer/ Mulher pra namorar/ Atrás do murundu/ Vamos saravá, minha gente!/ Salve o Rei Zulu!". E dá-lhe de mais bis.
No tempo do apartheid, os zulus, como todas as tribos nativas da África do Sul, passaram o diabo. Mas só podíamos imaginar, porque, sob o regime branco, o mundo sabia pouco sobre eles. Hoje temos mais informações. Com seus 10 milhões de cidadãos, são o maior grupo étnico da África do Sul. Vestem-se como uma ala de escola de samba e não largam mão de certos hábitos seculares e selvagens. Um, mais conhecido, é a circuncisão de mulheres. Outro, cometido de novo há pouco, é o sacrifício do touro.
Este consiste em soltar um touro no cercado e deixar que 40 guerreiros o matem com as próprias mãos, praticando atrocidades cuja descrição em detalhes estragaria o dia do leitor. Basta dizer que, durante horas, o martírio do touro é pior que o das touradas, da farra do boi ou dos rodeios. A ideia é a de que "a força da besta se transmita aos guerreiros e, destes, ao rei".
Mesmos os zulus esclarecidos hesitam em lutar contra essa tradição. Temem que, se algo grave acontecer ao rei, será porque a força do touro "não se transferiu" para ele. O "Rei Zulu" do Blecaute nunca precisou disso e era um homem realizado e feliz.




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