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ELIANE CANTANHÊDE
O plano Fênix
BRASÍLIA - O terremoto no Haiti
criou uma pausa, mas não soterrou
as críticas e pressões para novas
mudanças no 3º Programa Nacional de Direitos Humanos, depois
das que Jobim (Defesa) já conseguiu para os militares. O primeirão
na fila é Reinhold Stephanes (Agricultura), mas a igreja e as entidades
de comunicação estão esperando a poeira baixar em Porto Príncipe para agir em Brasília.
Cada um desses setores tem discordâncias específicas, pontuais,
mas eles vocalizam duas reclamações comuns a todos: a de que o plano "ressuscitou" questões que já estavam mais do que debatidas e resolvidas dentro do próprio governo
e a de que só foram contempladas
as contribuições e ideias da turma e
dos setores mais à esquerda, como
Meio Ambiente. O resto foi para as gavetas, ou para o lixo.
É para remexer o lixo que os descontentes estão a postos. A questão
do aborto, por exemplo, já foi mais
do que debatida no governo, com o
próprio Lula dando a posição oficial: apoio ao aborto só quando entrelaçado a questões de saúde. A
"autonomia da mulher para decidir" (que eu apoio) é coisa da Secretaria da Mulher, não do Planalto.
Mas está lá no plano.
As precauções em relação aos
transgênicos também foram mais
do que debatidas nesses anos, com a
decisão de delegar decisões à
CTNBio (comissão de biossegurança) e a possibilidade de recurso a
um conselho de ministros coordenado por Dilma Rousseff. Mas tudo
isso foi desconsiderado, e quem está lá no plano como donos do assunto são o Meio Ambiente e a Saúde,
por exemplo. A Agricultura? O gato comeu.
O plano, portanto, serviu para
ressuscitar várias questões em que
a esquerda foi derrotada no governo, servindo como revanche, ou terceiro turno, para cada uma.
Jobim resolveu a parte dele, e Lula foi, digamos, salvo pela tragédia
haitiana. Mas "a luta continua".
Desta vez, do outro lado.
elianec@uol.com.br
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