São Paulo, domingo, 15 de fevereiro de 2004

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ELIANE CANTANHÊDE

No coração do poder

BRASÍLIA - Foi numa sexta-feira, 13.
E foi justamente no coração do poder a maior denúncia contra o governo do PT. Aconteceu cedo demais, mal completado o primeiro ano. Pode passar rápido, mas deixa marcas.
Waldomiro Diniz foi pego de jeito. Acertava grana de campanha para o PT com bicheiros. Muito ruim. Pegava algum por fora para ele próprio. Pior ainda. Intermediava negociatas do pessoal do bicho com o pessoal dos telebingos. Péssimo.
Waldomiro poderia ser só Waldomiro. Mas não é o caso. Ele é amigo, apadrinhado e chefiado do nada menos que o chefe da Casa Civil, o poderoso (nunca é demais lembrar) José Dirceu. Digamos que é o braço direito de Dirceu, que é o braço direito do presidente da República.
Interessante a data do escândalo, anunciado pela revista "Época": além de sexta-feira, 13, foi no dia da festança pelos 24 anos do PT no Rio e às vésperas do Carnaval. O governo está de ressaca, antes mesmo da folia.
O estrago está feito, e bem feito. Bateu no Palácio do Planalto, no segundo homem mais importante da hierarquia do poder e um andar acima do gabinete do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Mas isso não é tudo. Resta saber o que ainda vem por aí.
Um detalhe muito comentado foi a câmera fixa em Waldomiro e numa tal bolsa branca que ele recebeu de um bicheiro no aeroporto de Brasília. Tais câmeras de segurança costumam ser fixas. Por que aquela tinha um alvo fixo? E no meio de uma campanha eleitoral? Está aí o indício de que a inteligência no governo FHC já estava de olho no camarada. Pode tê-lo investigado durante meses e, portanto, ter muita coisa ainda para infernizar a vida petista.
Esperava-se tudo do governo PT: autoritarismo, aparelhamento, rolo compressor. Mas corrupção? O PT, logo o PT, contribui para o estigma de que "todos são iguais". E deixa uma triste dúvida: não seria melhor continuar na oposição, mantendo crenças e esperanças de milhões?
"Ah, que saudade da oposição!", dizem eles. "Ah, que saudade do PT na oposição", concordamos todos.



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