São Paulo, domingo, 15 de fevereiro de 2004

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PAINEL DO LEITOR

Clonagem
"Merecem parabéns os cientistas sul-coreanos pela pesquisa que resultou na obtenção de células-tronco de embriões clonados. O obscurantismo de parlamentares brasileiros de bancadas religiosas conseguiu que o item referente à pesquisa com tais células fosse proibido no projeto de lei de biossegurança, atitude ainda mais radical do que a vista nos EUA. Espero que o Senado e o Poder Executivo revejam a questão e não barganhem com o sofrimento indizível que há mais de 20 anos, como médico, acompanho em pacientes que muito provavelmente poderão se beneficiar desse método. E congratulações à Folha por ter dado espaço à grande pesquisadora Mayana Zatz ("Esperança renovada", 13/2). Que todos nos unamos em torno dessas pesquisas, para que frutifiquem e para que os pacientes, presentes e futuros, possam delas se beneficiar."
Celio Levyman, mestre em neurologia pela Escola Paulista de Medicina, ex-conselheiro do Conselho Regional de Medicina do Estado de São Paulo (São Paulo, SP)

Universidade
"O ministro da Educação, senhor Tarso Genro, teve uma grande idéia para a inclusão das minorias raciais nos cursos superiores. De acordo com o plano do ministro, as vagas ociosas das escolas particulares seriam destinadas às minorias, que pagariam o curso depois de formadas. As escolas seriam recompensadas deixando de recolher as contribuições ao INSS. Quem se beneficiaria mais? As minorias, que teriam acesso a cursos que são o refugo das elites, ou as escolas, que teriam todas as suas vagas ociosas preenchidas por pagantes? Realmente é um ótimo jeito para dar às escolas particulares o dinheiro da riquíssima Previdência Social brasileira (desviar dinheiro da Previdência não é ilegal e inconstitucional?) Estaria o ministro usando as sofridas minorias para financiar as incompetentes instituições de ensino que não conseguem preencher suas vagas? Temos de ajudar as minorias oferecendo um ensino fundamental de qualidade e um ensino superior que não seja refugo. Certamente o ministro foi aplaudido de pé pelos donos de escolas superiores."
Wagner Couto Benedetti (Ribeirão Preto, SP)

História
"Infelizmente, mesmo sem lamentar o fim do socialismo, não consigo compartilhar do entusiasmo do senhor Otavio Frias Filho pelas teorias de Francis Fukuyama ("Fim da história", Opinião, 12/2). O "capitalismo financeiro e tecnológico das sociedades democráticas ocidentais", bem ao contrário da quimera solidária e igualitária do socialismo, é possível porque é apenas a exacerbação do que a espécie humana tem de pior: a competição irracional e a acumulação de riquezas desvinculada de qualquer sentido. Eliminada a contestação, excomungados os "heréticos" que preconizavam algum controle sobre capitais e capitalistas, subjugados povos e governos, restou ao capitalismo, livre, enfim, de qualquer inibição, seguir seus postulados e apetites, comendo o que restou, ou seja, a si próprio. Nesse contexto, o desemprego conjuntural e o conseqüente encolhimento da capacidade de consumo, a concentração cada vez maior da renda nas mãos de um número cada vez menor de indivíduos -não é só no Brasil que isso vem ocorrendo-, as quebras de megacorporações, obrigadas a dobrar de tamanho a cada dois anos, as fraudes perpetradas por executivos de grandes corporações, compelidos a mostrar resultados sempre crescentes, a exploração irrefletida de recursos não-renováveis, a recusa em aderir a protocolos ambientais e até mesmo a colocação do maior aparato bélico já reunido pelo homem a serviço de interesses corporativos são os mais visíveis -embora não os únicos- indícios de que o processo autofágico vai muito bem. Quanto tempo vai durar essa fúria autodestrutiva é impossível prever. Mas sua própria existência é prova suficiente de que a história efetivamente não chegou ao fim. Apesar disso, mesmo sem saber quando terminará, já podemos prever como terminará a história: no final, tampouco os príncipes viverão felizes para sempre."
Celso Balloti (São Paulo, SP)

Drogas
"É incompreensível o projeto de lei que extingue a pena de prisão para usuários de drogas. Só existe o traficante porque existe o consumidor. São os usuários que sustentam e financiam o tráfico de drogas. Sem usuários e comércio ilícito, o produto desaparece. Enfim, são os usuários os grandes culpados por esse mal. A condenação deveria começar por eles."
João Sérgio de Medeiros (Ituiutaba, MG)

Medicina
"O artigo do médico e professor Miguel Srougi ("A medicina pode vencer a morte?", "Tendências/Debates", 11/2) é oportuno por nos recordar que é precisamente da nossa condição humana de mortais que emana toda a preciosa dignidade da vida."
Abram Szajman, presidente da Fecomercio-SP e do Conselho de Administração do Grupo VR (São Paulo, SP)

PT
"A propósito da reportagem "Filha de Garotinho prepara ato contra Lula" (Brasil, pág. A6, 13/2), gostaria de ratificar, como já havia informado ao repórter, que nada tenho a ver com a organização de manifestação contra o presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Também gostaria de esclarecer que a reunião do PMDB foi feita para discutir a campanha do vice-governador Luiz Paulo Conde à Prefeitura do Rio, como temos feito regularmente. Como presidente da Fundação Ulysses Guimarães, órgão do PMDB no Estado do Rio, garanto que o partido não apóia manifestações com o uso de expedientes que extrapolem os limites da cidadania e da civilidade. Nossa luta é institucional. Para criticar o governo Lula e o PT, dispomos de outros meios, acessíveis a todos nos jornais, como o fracasso da política social e o aumento do desemprego. Sem falar na discriminação ao Estado do Rio, que perdeu seus três representantes no ministério, que, aos olhos do governo federal, parece não merecer a instalação de uma refinaria -apesar de produzir 83% do petróleo nacional- e que pode se transformar num mero território de passagem de um oleoduto da Petrobras sem direito de reivindicar benefícios para sua população. Também não faz parte da tradição da minha família o emprego de recursos baixos no exercício da política. Brigamos por idéias, sempre em benefício da população, e não poderíamos dar a ela esse mau exemplo. Meu pai, Anthony Garotinho, é secretário de Segurança do Estado do Rio, foi governador, duas vezes prefeito de Campos e deputado estadual sem recorrer a tais expedientes. Minha mãe, Rosinha Garotinho, foi secretária de Ação Social e é governadora também fazendo política com "P" maiúsculo. Fui criada acompanhando a trajetória dos dois e aprendendo com eles. É esse o caminho que sigo e que pretendo continuar seguindo."
Clarissa Matheus, presidente da Fundação Ulysses Guimarães do Rio de Janeiro (Rio de Janeiro, RJ)



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