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ELIANE CANTANHÊDE
Cabeça quente, solução fria
BRASÍLIA - Sempre que acontece
algo grave -e isso não é raro-, a sociedade fica indignada e as autoridades reagem prometendo um pacote. Mensalão? Pacote da reforma
política. Desenvolvimento ridículo? Pacote de aceleração do crescimento. Ataques do PCC? Pacote da
violência. Crime hediondo? Pacote
de redução da maioridade penal.
Passa a crise, reduz-se o clamor
popular e não se fala mais nisso. Cada um vai cuidar da sua vida, ou da
sua dor, até o próximo mensalão,
ataque, crise, crime...
É o caso do escabroso assassinato
do menininho João Hélio, arrastado pelo cinto de segurança por criminosos no Rio, um deles menor de
idade. Estamos todos escandalizados e solidários com a família. E
queremos um basta.
Mas será que votar a toque de caixa um pacote para reduzir a maioridade penal de 18 para 16 anos (ou,
sei lá, instituir a pena de morte) vai
resolver alguma coisa?
Se cada um de nós pensar três minutos, vai se lembrar imediatamente de grandes bandidos que roubaram milhões dos cofres públicos
durante anos e estão livres, leves e
soltos. Possivelmente, morrerão
antes do resultado da Justiça. E,
certamente, longe da cadeia.
Sem definir um projeto de país,
sem criar perspectivas de desenvolvimento e de real distribuição de
renda, sem aplicar devidamente as
leis, sem prender os tubarões e sem
dar condições iguais para todos,
não me venham com a redução da
maioridade penal.
Porque isso significaria um auto-engano coletivo (estamos fazendo
justiça!), teria um forte viés de vingança e, principalmente, não resolveria a questão da segurança.
Deixar os tubarões livres e eleitos
para criar leis que deixem os filhos
dos pobres e dos negros mofando
na cadeia corresponde a manter as
causas e atacar os efeitos: esses meninos transformados em monstros.
Vamos discutir como evitá-los, não
como trucidá-los.
elianec@uol.com.br
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