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PLÍNIO FRAGA
Somos todos americanos
RIO DE JANEIRO - Os Estados
Unidos da América se apropriaram
do nome de todo o continente.
Jean-Luc Godard refere-se à terra
dos norte-americanos como aquele
imenso país sem nome. Somos todos americanos.
O Rio sedia, a partir de 13 de julho, os Jogos Pan-Americanos, com
representantes de todos os 42 países do continente. O Pan não se caracteriza pela excelência de índices
atléticos, mas é uma idéia simpática
para mostrar que, do estreito de Bering (no norte) a Ushuaia (no sul),
encomprida-se a América.
Se o Rio ainda não está alerta para a enxurrada que receberá em julho, quando 5.500 atletas estarão
pela cidade disputando 330 competições em 16 dias, é aceitável que o
resto do país não tenha demonstrado interesse pelos Jogos até aqui.
É um acontecimento que envolve
mais de 46 mil pessoas trabalhando
diretamente para o Pan. O comitê
organizador diz que seus gastos
com a realização da competição
atingem R$ 691 milhões. Projeta receitas de R$ 120 milhões. Ou seja,
R$ 571 milhões são o déficit da realização dos jogos, haverá quem diga.
Mas o comitê chama de investimento, já que inclui gastos com
equipamentos que serão heranças
do Pan para o esporte.
Essa conta não inclui recursos de
obras de infra-estrutura, como os
R$ 12 milhões da construção de um
velódromo, o primeiro do país. Pode se transformar num elefante
branco ou pode ser um estímulo a
um esporte de apelo restrito.
O legado do Pan ao Rio -extensão do metrô, vias expressas, reformas urbanas- não saiu do papel.
Mais do que segurança, o que pode
dar problema é o sistema de transporte, já cotidianamente saturado.
O torcedor pode ser obrigado a levar na esportiva 15 dias sob caos ao
ir e vir pela cidade, quando o poder
público lhe dirá que é apenas um rapaz latino-americano.
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