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CLÓVIS ROSSI
Embaraço, nosso e deles
SÃO PAULO - Três ou quatro coisas que ainda é preciso dizer sobre o
caso da brasileira Paula Oliveira,
atacada ou automutilada nas imediações de Zurique:
1 - Se aceitei, precipitadamente, a
versão dela sobre a agressão foi por
absoluta falta de razões para duvidar. Afinal, ela não é clandestina
nem tem ficha policial nem antecedentes comprometedores. Para que
inventaria a história?
2 - Mesmo que tenha se automutilado, não há razões para, ao contrário do que diz certa mídia suíça, o
país ficar ofendido pelas críticas à
xenofobia. O Partido do Povo Suíço
e seu líder, Christoph Blocher, são
um embaraço para boa parte do establishment político local, exatamente pela xenofobia.
Blocher é da mesmíssima família
política de outros líderes da extrema-direita, como o francês Jean-Marie Le Pen e o austríaco Jörg
Haider, recentemente morto, para
não falar da Liga Norte italiana.
O embaraço é tamanho que a
União Europeia chegou a impor
sanções à Áustria quando o partido
de Haider entrou para a coalizão
governante.
Portanto, a hipótese de um atentado racista era verossímil. Nem seria o primeiro, aliás.
3 - Mas, se a versão da polícia for a
verdadeira, só vai reforçar a desconfiança com que os brasileiros
são vistos em parte da opinião pública europeia. Por mais que a
maioria se mate de trabalhar, clandestinos ou não, os escândalos provocados por uma minoria de vigaristas contaminam todos, a ponto
de ter ouvido, uma vez, de uma brasileira residente em Portugal, que
todas as brasileiras são tratadas como prostitutas.
4 - Presidente da República e
chanceler não deveriam tratar publicamente de assuntos policiais,
menos ainda antes de ter todas as
informações. Devem, sim, criar as
condições para a proteção de brasileiros, em vez de comentar os episódios que os envolvam.
crossi@uol.com.br
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