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CLÓVIS ROSSI
Invidentes
SÃO PAULO - Há alguns anos, escrevi um texto para este espaço com o título "Economista bom é economista
morto".
A Ordem dos Economistas não entendeu o espírito da coisa. Seu presidente à época publicou irado artigo
em resposta, como se eu estivesse pedindo, a sério, a "solução final" só para economistas.
Ontem me senti vingado: artigo de
um economista de prestígio, o deputado federal Delfim Netto (PPB-SP),
pregava a substituição dos economistas por videntes (e, ainda por cima,
dos economistas do Fed, o banco central norte-americano).
Ironia e revanche à parte, Delfim
tem um ponto indiscutível: ninguém
sabe o que acontecerá de fato com a
economia norte-americana e, por extensão, com as outras.
Há palpites, uns bons, outros nem
tanto, mas sempre palpites.
A economia brasileira talvez seja
um bom exemplo do forte nevoeiro
reinante. Até recentemente havia virtual consenso de que ela seria pouco
afetada pela desaceleração da economia norte-americana. Agora há dois
tipos de problemas: primeiro, já não
há consenso sobre o tamanho da encrenca nos EUA; segundo, começa a
haver o temor de que o Brasil seja,
sim, atingido.
É sintomático, por exemplo, que
uma autoridade do porte de Mike
Moore, o diretor-geral da OMC (Organização Mundial do Comércio),
tenha citado especificamente o Brasil
entre as vítimas preferenciais de um
forte desaquecimento norte-americano por causa de seu problema com as
contas externas.
Avaliações à parte, é igualmente
sintomático que o dólar não pare de
subir, tendo até, em um momento da
manhã de ontem, atingido o recorde
na gestão Armínio Fraga.
Como não sou vidente, não estou
dizendo que o Brasil caminha para
uma baita crise. Só acho que convém
pôr no freezer, por enquanto, a tese
de que os dois anos finais de FHC seriam uma história de sucesso econômico. Agora, só vidente pode dizer se
sim ou se não.
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