São Paulo, quinta-feira, 15 de março de 2001

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CLÓVIS ROSSI

Invidentes

SÃO PAULO - Há alguns anos, escrevi um texto para este espaço com o título "Economista bom é economista morto".
A Ordem dos Economistas não entendeu o espírito da coisa. Seu presidente à época publicou irado artigo em resposta, como se eu estivesse pedindo, a sério, a "solução final" só para economistas.
Ontem me senti vingado: artigo de um economista de prestígio, o deputado federal Delfim Netto (PPB-SP), pregava a substituição dos economistas por videntes (e, ainda por cima, dos economistas do Fed, o banco central norte-americano).
Ironia e revanche à parte, Delfim tem um ponto indiscutível: ninguém sabe o que acontecerá de fato com a economia norte-americana e, por extensão, com as outras.
Há palpites, uns bons, outros nem tanto, mas sempre palpites.
A economia brasileira talvez seja um bom exemplo do forte nevoeiro reinante. Até recentemente havia virtual consenso de que ela seria pouco afetada pela desaceleração da economia norte-americana. Agora há dois tipos de problemas: primeiro, já não há consenso sobre o tamanho da encrenca nos EUA; segundo, começa a haver o temor de que o Brasil seja, sim, atingido.
É sintomático, por exemplo, que uma autoridade do porte de Mike Moore, o diretor-geral da OMC (Organização Mundial do Comércio), tenha citado especificamente o Brasil entre as vítimas preferenciais de um forte desaquecimento norte-americano por causa de seu problema com as contas externas.
Avaliações à parte, é igualmente sintomático que o dólar não pare de subir, tendo até, em um momento da manhã de ontem, atingido o recorde na gestão Armínio Fraga.
Como não sou vidente, não estou dizendo que o Brasil caminha para uma baita crise. Só acho que convém pôr no freezer, por enquanto, a tese de que os dois anos finais de FHC seriam uma história de sucesso econômico. Agora, só vidente pode dizer se sim ou se não.


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