|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
MELCHIADES FILHO
Boi na linha
BRASÍLIA - A CPI dos Grampos
ainda não achou sua vocação. É
compreensível. Ela tem um DNA
diferente. Nasceu da paranóia e da
indignação dos parlamentares, e
não do interesse da oposição em
fustigar o governo. Falta-lhe, portanto, a estridência que os interesses partidários costumam prover.
Houve também dura e inesperada concorrência nesses dois meses
de trabalho. Como sobressair diante da CPMF e da Tapioca?
Além disso, nem todos se movem
por disposição republicana. Uns
querem aproveitar a comissão para
passar uma lei que cerceie investigações e a divulgação de conteúdos
comprometedores. Outros babam
ante a possibilidade de descobrir
segredos de alcova -e as conseqüentes oportunidades de achaque.
Mas há ainda outra razão a conspirar contra o triunfo da CPI.
Violar uma linha telefônica é fácil. Livros e sites ensinam a fazer e a
instalar a escuta. Basta escolher o
ponto na linha e, como num exame
de sangue, puxar o êmbolo.
Na telefonia pela internet (VoIP),
porém, a voz não viaja em bloco.
Como os fragmentos não seguem
uma única rota nem trafegam necessariamente em ordem, é quase
impossível fisgar e remontar a conversa. Para piorar, alguns sistemas
criptografam as mensagens. A polícia da Alemanha, por exemplo, já
admitiu que não sabe o que fazer.
A CPI pode dar valiosas contribuições. Dimensionar a indústria
da arapongagem -410 mil escutas
foram legalmente instaladas no
Brasil em 2007. Obrigar juízes a
monitorar o andamento das interceptações depois de autorizadas.
Impedir o "bacalhau" (grampo de
telefone que não é alvo da investigação). Garantir fidelidade na transcrição e edição dos diálogos. Cobrar
das teles que protejam melhor a rede e combatam a escuta ilegal.
Mas a verdade é que ela delibera
sobre uma realidade que a tecnologia vai deixando para trás. O colarinho branco, em Brasília e fora daqui, aprende a discar pelo Skype.
mfilho@folhasp.com.br
Texto Anterior: São Paulo - Clóvis Rossi: O patrimônio jogado no cassino Próximo Texto: Rio de Janeiro - Ruy Castro: Leitura de cativeiro Índice
|