|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
FERNANDO RODRIGUES
Juízes desconectados
BRASÍLIA - É sempre grande a
reação quando uma corporação é
instada a olhar para si própria e melhorar seus costumes. Funcionários
públicos, políticos, advogados, médicos e juízes são rápidos ao responder. Em geral (nem todos) enxergam as críticas como ignorância
de quem as faz ou só como fruto de
motivação pessoal ou escusa.
Esse é o substrato da nota de entidades de juízes divulgada na semana passada. Reagiram contra a
eventual redução de suas férias de
60 para 30 dias -mencionada ainda apenas como hipótese por Cezar
Peluso, presidente eleito do STF.
A rigor, os juízes têm descanso
ainda mais generoso. É comum pararem no final do ano em algum
momento a partir do dia 15 dezembro. Há também feriados próprios
como os dias da Justiça, do advogado e do servidor público. Sem contar os feriados normais, os juízes
passam legalmente cerca de 75 dias
sem trabalhar por ano.
Não se trata aqui de insinuar falta
de esforço no Judiciário, mas de fazer uma constatação. Nos três Poderes da República, os que desfrutam de mais tempo para descansar
são os juízes. O Congresso há quase
uma década reduziu seu recesso de
meio de ano (embora, todos saibam, trabalho duro ali não seja uma
praxe). No Executivo, o presidente
e os ministros desfrutam de férias
mais curtas do que 30 dias.
Juízes afirmam trabalhar em casa ou usando férias para analisar
processos atrasados. Está errado.
Qualquer um deve trabalhar no horário e no local correto. É ocioso
também citar casos de outros países nos quais os magistrados passam longos períodos em descanso
-são exemplos dos quais o Brasil
fará bem em se afastar.
Manter privilégios seculares aumenta o abismo entre a sociedade e
as instituições. Num momento de
consolidação e aprimoramento da
democracia, tudo o que o Brasil não
precisa é de um Poder Judiciário
desconectado da realidade.
fernando.rodrigues@grupofolha.com.br
Texto Anterior: São Paulo - Fernando de Barros e Silva: Menos férias, mais justiça Próximo Texto: Rio de Janeiro - Ruy Castro: De outras eras geológicas Índice
|