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RUY CASTRO
De outras eras geológicas
RIO DE JANEIRO - Outro dia, dei
um teco sem querer numa tecla do
computador e, em 0,0001 segundo,
perdi tudo de 2009 para cá -ou não
dei teco nenhum, a tecla é que disparou por conta própria e lá se foram as mensagens para o limbo cibernético. Convocado com urgência, meu socorrista eletrônico mergulhou nas tripas da engenhoca e
passou o dia tentando "recuperar"
as mensagens. Debalde. Resultado:
para todos que me escreveram por
aqueles dias, e eu ainda não tinha
respondido, vou passar por esnobe,
mal educado e sabe-se o quê mais.
O mesmo quanto às pessoas que
ligam para meu telefone fixo e,
quando não me encontram, deixam
mensagem na secretária eletrônica
pedindo que eu ligue de volta. Até aí
tudo bem. Só que algumas já não se
dão ao trabalho de informar seu nome e telefone, confiantes em que
meu aparelho é daqueles que registram o número de quem chamou.
Resultado: chego da rua, ouço a
mensagem, não reconheço a voz,
não sei de onde veio a chamada e só
me resta sentar no meio-fio e lamentar meu vergonhoso atraso tecnológico.
Sem falar nas vezes em que sou
solicitado a dar o meu twitter, meu
facebook, meu orkut ou meu grlknt,
e tenho de confessar que não tenho
nenhuma dessas conveniências
-serve o endereço postal?
Você dirá que não tem nada com
isto, eu que me atualize e pare de
resmungar. No que estará coberto
de razão. Mas, por minha vez, me
pergunto quantos ainda não serão,
como eu, homens de outras eras
geológicas, incapazes de acompanhar a velocidade da internet, da telefonia, da ciência, das comunicações, dos recordes olímpicos e até
desse infernal celebritismo que
transforma anônimos em "famosos" em um minuto cravado.
Incapazes, aliás, não é bem o termo. Não é difícil acompanhar a velocidade com que as coisas se dão
hoje. É só inútil.
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