São Paulo, terça-feira, 15 de abril de 2008

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De novo Berlusconi

HÁ DOIS ANOS , pouco mais da metade dos italianos respirava aliviada com a derrota de Silvio Berlusconi, após cinco anos de governo. Ontem, pouco mais da metade dos italianos decidiu recolocá-lo no poder. Com a vitória de sua coalizão na Câmara e no Senado, o magnata italiano conquistou seu terceiro mandato como premiê.
O que mudou de 2006 para cá? Houve o governo de centro-esquerda de Romano Prodi, ampla coalizão que abrangia de católicos a comunistas. Como a maioria das administrações na Itália, a gestão tornou-se refém dos interesses contraditórios dos partidos que a apoiavam e mergulhou em paralisia e ineficiência.
Já há 15 anos a economia da Itália se sai pior que a média da União Européia. Para este ano, o FMI prevê um crescimento de apenas 0,3% para a Itália, contra 1,4% para os 15 países que constituem a zona do euro. A melhora da performance passaria por reformas estruturais que nenhum governo consegue promover.
É pouco provável que Berlusconi em seu novo mandato consiga. Trata-se essencialmente do mesmo personagem que, afora muito modestas melhoras no sistema de aposentadorias e de emprego, dedicou a maior parte de suas energias a promover legislações que o beneficiavam, a seu partido e a seus negócios.
Foi com base nessas leis casuísticas que conseguiu escapar a condenações judiciais em processos a que respondia, sob acusação de lavagem de dinheiro, cumplicidade em assassinato, conexões com a Máfia, evasão de impostos e corrupção.
O Berlusconi 3.0, entretanto, traz uma vantagem sobre as versões anteriores. Desta vez, ele se apresenta numa coalizão de apenas três agremiações, o que tende a tornar o governo mais estável. A gestão Prodi caiu pela defecção de um micropartido que obtivera apenas 1,5% dos votos.
Enquanto a Itália não sustentar um programa de reformas que enxugue a máquina estatal, flexibilize as relações trabalhistas e aumente o tempo até a aposentadoria, a economia e a política do país mal sairão do lugar.


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