São Paulo, quarta-feira, 15 de maio de 2002

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ADMIRÁVEL MUNDO NOVO

O novo tratado de redução de armas atômicas anunciado pelos EUA e pela Rússia representa mais uma vitória da Casa Branca sobre o Kremlin. As duas maiores potências nucleares do planeta concordaram em cortar seus respectivos arsenais estratégicos em dois terços ao longo dos próximos dez anos. Ainda conservariam capacidade para destruir a maior parte da vida na Terra, mas, por alguma razão, convencionou-se acreditar que as reduções são algo em si positivo.
Embora os cortes propostos não signifiquem muito, é certo que não constituem um mal. O problema com o novo tratado são os acertos paralelos que vêm com ele.
O mais grave é que, ao concordar com o novo documento, a Rússia indiretamente reconhece o abandono do Tratado Antimísseis Balísticos, o TAB, de 1972. Era esse tratado que limitava o direito das potências de criar mecanismos de defesa contra mísseis. Agora os EUA ficam livres para dar início à construção do escudo espacial antinuclear, que, se funcionar, desequilibrará ainda mais o jogo em favor de Washington.
Como contrapartida visível, Moscou obteve dos EUA apenas a formalização do tratado. A administração Bush teria preferido só um acerto verbal. Especialistas, porém, acreditam que o Kremlin conseguiu outras concessões em outros campos. Cita-se uma aproximação com a Otan, a aliança militar ocidental, e ajuda financeira para a destruição das armas. Há quem fale também em sinal verde de Washington para a Rússia agir contra os rebeldes tchetchenos.
Não importa tanto o que tenha sido acertado, o fato é que a Rússia atravessa dificuldades. Já não se pode dar ao luxo de custear a manutenção de seus arsenais. De mais a mais, o Kremlin não tem como opor-se aos planos de Washington em campo algum. Aparentemente, o que as duas nações fizeram foi acertar o preço das concessões.


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