São Paulo, quarta-feira, 15 de maio de 2002

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CARLOS HEITOR CONY

A Argentina e Fujimori

RIO DE JANEIRO - Dólar subindo, ameaçando bater nos R$ 3, política de juros mais truculenta, Bolsas despencando, o espectro da Argentina rondando nossa economia -e tudo isso por causa de uma pesquisa que continua dando Lula ainda na liderança das intenções de voto para a próxima sucessão presidencial.
Não faz muito tempo, quando um país ameaçava ter uma política independente em relação às grandes metrópoles do capital (Londres ou Washington), tínhamos a esquadra inglesa fazendo ""exercícios" em águas territoriais do país em causa. Nos anos 60, havia até uma operação, a Unitas, por cuja conta fundeavam no cais do porto, aqui no Rio, algumas belonaves da Marinha dos EUA.
Esse tempo passou -pelo menos por enquanto. Mas há um tipo de pressão tão eficiente quanto a ameaça de intervenção militar. Não envolve governos, mas bancos e empresas multinacionais com capacidade de recomendar boicotes tão eficientes quanto o de Cuba -esta, sim, continua sendo uma questão de governo contra governo.
Os recados estão sendo dados. No caso de uma vitória da oposição, seja ela de Lula, de Garotinho ou mesmo de Ciro, a cobra vai fumar. Não teremos empresários fugindo em massa para o exterior, mas os próprios investimentos irão embora, deixando o Brasil entregue a um Orçamento que mal dá para pagar suas despesas domésticas.
As pressões só acabarão quando houver certeza absoluta de que a política econômica do Brasil continuará a mesma, tendo como núcleo o atual presidente da República, o ministro da Fazenda e o presidente do Banco Central.
A insinuação é clara. A melhor saída para o capital estrangeiro (e grande parte do nacional) não será apenas o continuísmo, mas também a continuidade. O próprio Serra é problemático. Daí que são dois espectros a nos espreitar: a Argentina como advertência e Fujimori como solução.


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