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PREVENÇÃO E DOGMA
"In saecula saeculorum",
"pelos séculos dos séculos", é
uma expressão litúrgica que simboliza o caráter transcendente da Igreja
Católica. E o primeiro erro em que se
pode incorrer quando se analisam as
posições do Vaticano é perder de vista as perspectivas mais amplas que
as orientam e tentar impor-lhes uma
lógica terrena.
A moral com que a igreja trabalha
não é condicionada. Sem entender
isso, a intransigência com que Roma
trata a questão do uso de preservativos, inclusive na prevenção de doenças sexualmente transmissíveis, como a Aids, parecerá um tolo e injustificável exercício de obstinação.
O problema é que a igreja, embora
opere com uma moral incondicionada, o faz num mundo condicionado.
Daí surgem conflitos de difícil solução, para dizer o mínimo. É o que
acaba de ocorrer no encontro "Aids e
Desafios para a Igreja do Brasil", em
Itaici, no interior de São Paulo. Enquanto a Comissão Nacional de
DST/Aids da Pastoral da Saúde assume uma posição mais tolerante em
relação ao preservativo, o Pontifício
Conselho da Saúde, de Roma, e a
CNBB mantêm-se firmes na defesa
do que definem como princípio ético
da sexualidade, ou seja, a fidelidade
conjugal e a castidade.
Obviamente, os padres ligados à
Pastoral da Saúde estão mais próximos da realidade das pessoas infectadas pelo HIV e tendem a valorizar a
lógica terrena em detrimento da moral imutável. O dilema é bem traduzido pelo bispo Eugène Lambert
Adrian Rixen: "Entre dois males, o
ideal é que o fiel escolha o menor".
A justificação teológica desse princípio é certamente mais frágil do que
o acatamento da moral incondicionada, mas ela encontra amparo em
outros princípios humanísticos também defendidos pela igreja.
Vale ressaltar que considerações
teológicas não dizem respeito ao Estado, ao qual cabe promover as campanhas pelo uso do preservativo. De
Roma, resta esperar que não interfira
numa questão de saúde pública.
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