São Paulo, quinta-feira, 15 de junho de 2000


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PREVENÇÃO E DOGMA

"In saecula saeculorum", "pelos séculos dos séculos", é uma expressão litúrgica que simboliza o caráter transcendente da Igreja Católica. E o primeiro erro em que se pode incorrer quando se analisam as posições do Vaticano é perder de vista as perspectivas mais amplas que as orientam e tentar impor-lhes uma lógica terrena.
A moral com que a igreja trabalha não é condicionada. Sem entender isso, a intransigência com que Roma trata a questão do uso de preservativos, inclusive na prevenção de doenças sexualmente transmissíveis, como a Aids, parecerá um tolo e injustificável exercício de obstinação.
O problema é que a igreja, embora opere com uma moral incondicionada, o faz num mundo condicionado. Daí surgem conflitos de difícil solução, para dizer o mínimo. É o que acaba de ocorrer no encontro "Aids e Desafios para a Igreja do Brasil", em Itaici, no interior de São Paulo. Enquanto a Comissão Nacional de DST/Aids da Pastoral da Saúde assume uma posição mais tolerante em relação ao preservativo, o Pontifício Conselho da Saúde, de Roma, e a CNBB mantêm-se firmes na defesa do que definem como princípio ético da sexualidade, ou seja, a fidelidade conjugal e a castidade.
Obviamente, os padres ligados à Pastoral da Saúde estão mais próximos da realidade das pessoas infectadas pelo HIV e tendem a valorizar a lógica terrena em detrimento da moral imutável. O dilema é bem traduzido pelo bispo Eugène Lambert Adrian Rixen: "Entre dois males, o ideal é que o fiel escolha o menor".
A justificação teológica desse princípio é certamente mais frágil do que o acatamento da moral incondicionada, mas ela encontra amparo em outros princípios humanísticos também defendidos pela igreja.
Vale ressaltar que considerações teológicas não dizem respeito ao Estado, ao qual cabe promover as campanhas pelo uso do preservativo. De Roma, resta esperar que não interfira numa questão de saúde pública.


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