São Paulo, quinta-feira, 15 de junho de 2000


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SÃO PAULO NO DIVÃ

Entender o que vai na cabeça de boa parcela do eleitorado paulistano é tarefa inglória. Talvez as análises políticas e mesmo aquelas que vasculham fatores socioeconômicos ligados ao voto não sejam suficientes para compreender a propensão de um grande conjunto de eleitores a acolher candidatos conservadores-populistas. Talvez fosse preciso recorrer a alguma psicanálise aplicada a fenômenos coletivos.
Registre-se o resultado da mais recente pesquisa do Datafolha sobre a intenção de voto para a prefeitura paulistana. Contrariando todos os critérios lógicos, após a enxurrada de acusações e denúncias de escândalos mais recentes, o ex-prefeito Paulo Maluf voltou a subir consideravelmente na preferência do eleitorado. Com os 20% obtidos, assume a segunda colocação na pesquisa, empatado tecnicamente com a candidata do PSB, Luiza Erundina (18%), e atrás da petista Marta Suplicy (30%).
O argumento de que Maluf esteve, no período da pesquisa, superexposto na TV, aproveitando-se do horário gratuito de seu partido, o PPB, parece pouco para explicar uma subida tão substancial -a proporção dos que declaram preferir o ex-prefeito dobrou em menos de três meses.
É notável o contraste entre a trajetória ascendente do ex-prefeito na pesquisa e o caos político e administrativo instaurado na cidade em grande medida pelos sete anos e meio em que, até agora, Paulo Maluf e seu afilhado Celso Pitta estiveram à frente do Executivo, ópera-bufa que se encontra em fase particularmente patética. Essa relação de causa e efeito parece incapaz de convencer parte expressiva dos habitantes de São Paulo a mudar seu hábito eleitoral.
Já que não se pode colocar tanta gente em um divã de psicanalista, resta torcer para que o trauma recente não se mostre ao final tão passageiro quanto, por ora, parece ser; para que a resposta das urnas revele que a convivência com o descalabro administrativo converteu-se, enfim, em algum aprendizado.


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