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SÃO PAULO NO DIVÃ
Entender o que vai na cabeça
de boa parcela do eleitorado
paulistano é tarefa inglória. Talvez as
análises políticas e mesmo aquelas
que vasculham fatores socioeconômicos ligados ao voto não sejam suficientes para compreender a propensão de um grande conjunto de
eleitores a acolher candidatos conservadores-populistas. Talvez fosse
preciso recorrer a alguma psicanálise
aplicada a fenômenos coletivos.
Registre-se o resultado da mais recente pesquisa do Datafolha sobre a
intenção de voto para a prefeitura
paulistana. Contrariando todos os
critérios lógicos, após a enxurrada de
acusações e denúncias de escândalos
mais recentes, o ex-prefeito Paulo
Maluf voltou a subir consideravelmente na preferência do eleitorado.
Com os 20% obtidos, assume a segunda colocação na pesquisa, empatado tecnicamente com a candidata
do PSB, Luiza Erundina (18%), e
atrás da petista Marta Suplicy (30%).
O argumento de que Maluf esteve,
no período da pesquisa, superexposto na TV, aproveitando-se do horário
gratuito de seu partido, o PPB, parece
pouco para explicar uma subida tão
substancial -a proporção dos que
declaram preferir o ex-prefeito dobrou em menos de três meses.
É notável o contraste entre a trajetória ascendente do ex-prefeito na pesquisa e o caos político e administrativo instaurado na cidade em grande
medida pelos sete anos e meio em
que, até agora, Paulo Maluf e seu afilhado Celso Pitta estiveram à frente
do Executivo, ópera-bufa que se encontra em fase particularmente patética. Essa relação de causa e efeito parece incapaz de convencer parte expressiva dos habitantes de São Paulo
a mudar seu hábito eleitoral.
Já que não se pode colocar tanta
gente em um divã de psicanalista,
resta torcer para que o trauma recente não se mostre ao final tão passageiro quanto, por ora, parece ser; para que a resposta das urnas revele que
a convivência com o descalabro administrativo converteu-se, enfim, em
algum aprendizado.
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