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CLÓVIS ROSSI
De honestos e sinistros
SÃO PAULO - Um leitor, cujo nome preservo porque não tive tempo de
pedir autorização para citá-lo, mandou e-mail no qual afirma que está
com medo de sair à rua.
Por causa da insegurança generalizada? Não. Com medo de ser apontado assim: "Ih, lá vai o honesto".
Difícil negar-lhe razão. O depoimento do deputado Roberto Jefferson
ontem pode ser inteirinho uma grande mentira, uma formidável coleção
de fantasias. Mas, para quem conhece mesmo superficialmente a política
brasileira e mesmo para quem a
acompanha apenas pela mídia, é
perfeitamente verossímil.
É, no fundo, a história, a sinistra
história, de um pedaço da política
brasileira, tão sinistra que, por isso
mesmo, torna verossímil tudo o que
de sinistro se diga sobre boa parte de
seus protagonistas.
Tão sinistra que fornece palco e até
uma presunção de superioridade
moral a quem, como Roberto Jefferson, foi um dos mais ruidosos líderes
da tropa de choque de um presidente,
Fernando Collor de Mello, devidamente "escorraçado" da política por
falta de decoro.
Tão sinistra que os dois partidos
aos quais se concedeu a presunção de
republicanos, o PSDB primeiro e o PT
depois, aliaram-se, cada um no seu
turno no poder, justamente a essa figura, resgatando uma autoridade
que jamais teve e jamais deveria ter
tido para se transformar, como ontem, em uma espécie de arauto da
ética e da moralidade públicas.
Para não falar em outras figuras
hoje menos notórias, mas não menos
sinistras.
Tão sinistra que dá uma imensa,
incontrolável vergonha. Afinal, são
quase todos eleitos e, muitos deles,
muitas vezes reeleitos pelo distinto
público. Vergonha também porque
não se ouve um só grito de "que se vayan todos".
@ - crossi@uol.com.br
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