São Paulo, quarta-feira, 15 de junho de 2005

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CLÓVIS ROSSI

De honestos e sinistros

SÃO PAULO - Um leitor, cujo nome preservo porque não tive tempo de pedir autorização para citá-lo, mandou e-mail no qual afirma que está com medo de sair à rua.
Por causa da insegurança generalizada? Não. Com medo de ser apontado assim: "Ih, lá vai o honesto".
Difícil negar-lhe razão. O depoimento do deputado Roberto Jefferson ontem pode ser inteirinho uma grande mentira, uma formidável coleção de fantasias. Mas, para quem conhece mesmo superficialmente a política brasileira e mesmo para quem a acompanha apenas pela mídia, é perfeitamente verossímil.
É, no fundo, a história, a sinistra história, de um pedaço da política brasileira, tão sinistra que, por isso mesmo, torna verossímil tudo o que de sinistro se diga sobre boa parte de seus protagonistas.
Tão sinistra que fornece palco e até uma presunção de superioridade moral a quem, como Roberto Jefferson, foi um dos mais ruidosos líderes da tropa de choque de um presidente, Fernando Collor de Mello, devidamente "escorraçado" da política por falta de decoro.
Tão sinistra que os dois partidos aos quais se concedeu a presunção de republicanos, o PSDB primeiro e o PT depois, aliaram-se, cada um no seu turno no poder, justamente a essa figura, resgatando uma autoridade que jamais teve e jamais deveria ter tido para se transformar, como ontem, em uma espécie de arauto da ética e da moralidade públicas.
Para não falar em outras figuras hoje menos notórias, mas não menos sinistras.
Tão sinistra que dá uma imensa, incontrolável vergonha. Afinal, são quase todos eleitos e, muitos deles, muitas vezes reeleitos pelo distinto público. Vergonha também porque não se ouve um só grito de "que se vayan todos".

@ - crossi@uol.com.br


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