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FERNANDO RODRIGUES
Caminho das pedras
BRASÍLIA - É fácil Lula desmontar Roberto Jefferson. Ou comprovar a
veracidade do que diz o deputado do
PTB. Basta ao presidente da República incentivar a abertura de um processo judicial para quebrar o sigilo
bancário de todos os saques em dinheiro acima de R$ 200 mil realizados nos meses de maio, junho e julho
de 2004 nas agências do Banco do
Brasil e do Banco Rural.
Ao relatar um crime que ele próprio
cometeu -ter recebido R$ 4 milhões
em dinheiro, sem recibo nem descrição de origem-, Roberto Jefferson
afirmou ontem que o numerário vinha embalado em etiquetas do Banco do Brasil e do Banco Rural. Foram
duas parcelas. Uma de R$ 2,2 milhões
e outra de R$ 1,8 milhão.
Esse é o detalhe objetivo mais valioso do depoimento do presidente do
PTB à Comissão de Ética da Câmara.
A não ser que o portador do dinheiro
tenha sido laborioso a ponto de forjar
as etiquetas que embalavam os R$ 4
milhões, certamente será possível
chegar às contas bancárias que deram origem a essa fortuna.
São raros saques de R$ 4 milhões
em dinheiro. Mesmo valores acima
de R$ 200 mil em espécie são facilmente localizáveis no sistema bancário brasileiro, um dos mais informatizados do planeta. É impossível tal
quantia ter saído de algum banco
sem deixar rastro.
Ao oferecer esse detalhe quase prosaico das etiquetas do dinheiro que
diz ter recebido do PT, Roberto Jefferson explicitou mais uma vez sua tática. A cada depoimento, apresenta
um detalhe novo. Na segunda entrevista à Folha, já havia avançado sobre a anterior. Ontem, foi o Jefferson
versão 1.3. Caminhou mais.
"Nós estamos vivendo apenas o primeiro momento", disse o petebista
ontem. É verdade. Mas, diferentemente da CPI do Collorgate, a investigação atual já começa do ponto onde aquela havia terminado. No início dos anos 90, o mundo caiu quando chegou-se ao presidente da República. Agora, fala-se abertamente
que Lula há tempos foi informado
sobre o "mensalão". É grave a crise.
@ - frodriguesbsb@uol.com.br
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