São Paulo, quinta-feira, 15 de junho de 2006 |
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CLÓVIS ROSSI Anomalias normais BERLIM - O Brasil, em geral, e sua
política, em particular, são uma tal
coleção de anomalias que a gente já
nem se dá conta de que anormalidades são anormais, com o perdão da
redundância.
A mais recente anormalidade
"normalizada" é a desistência do
PMDB de ter candidatura própria à
Presidência da República. Na prática, significa contar ao distinto público o seguinte: nós não temos um
só nome que empolgue a nós mesmos, não temos a mais leve idéia de
que programa implantaríamos no
país se tivéssemos um nome e, por
isso, estamos fora.
É normal? Até seria se o PMDB
fosse um "P" qualquer desses que
abundam na pátria (aliás, outra
anomalia "normalizada"). Não é
exatamente o melhor partido que
jamais se inventou, mas é, sempre,
um partido grande, talvez o de
maior capilaridade no país e certamente o que sistematicamente elege uma das três maiores bancadas,
tanto para a Câmara dos Deputados
como para o Senado (para não mencionar Assembléias Legislativas,
prefeituras etc).
Em um país normal, um partido
nessas condições, e que faz sem corar a confissão antes descrita, fica
desmoralizado: se não tem projeto
para o país, não pode ter projeto para o Estado "xis" ou "y". Não obstante, o PMDB tem se dado sistematicamente bem nos pleitos estaduais e municipais.
O truque, no fundo, é simples:
não se trata de um partido, com a
obrigação portanto de ter uma plataforma, mínima que seja. Trata-se
de uma coleção de caciques regionais, algumas vezes antagônicos entre si, que cuidam de defender suas
sesmarias nem que seja à custa de
aliar-se aqui com o PT, ali com o
PSDB, ainda que PT e PSDB disputem um Fla-Flu medíocre, mas de
intenso ódio.
Em outros países, seria tudo muito ridículo. No Brasil, é normal.
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