São Paulo, segunda-feira, 15 de julho de 2002

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

VINICIUS TORRES FREIRE

O mundo é uma bolha

SÃO PAULO - Muita gente sensata e de esquerda se diverte com as revelações sobre a picaretagem empresarial nos EUA, na qual foi pilhado até o círculo de George "Baby" Bush.
Decerto pode se rir do mingau ideológico do conservadorismo dos últimos 20 anos, que martelou a idéia de que só o Estado é corrupto, ineficaz e atenta contra liberdades -veja-se agora o que ocorre com megacorporações privadas até a alma, muitas tigres de papel financeiro.
Mas a mamata dos executivos-chefes jogou gasolina no fogo em que queimam as ações das empresas dos EUA e o prestígio do dólar, um ajuste que começou há dois anos e não se sabe bem como vai terminar.
Os preços das ações ainda estão altos demais em relação aos verdadeiros ganhos das empresas. Ainda vão cair mais, pois os lucros vão ficar mais mirrados pelo duplo efeito da desaceleração econômica e da contabilidade menos picareta.
Diante dessas perspectivas, os investidores globais, que financiam os US$ 450 bilhões que os EUA gastam a mais do que produzem (seu déficit externo), começam a debandar. Debandada significa dólar mais fraco, risco de inflação e juro mais alto nos EUA e no resto do planeta.
A economia dos países ricos vive um clássico fim de bolha (que sempre na história veio a par com fraude financeira) e uma grave e também clássica crise de superinvestimento, desta vez em computação e telefonia avançada. Os consumidores desses países não têm mais como estimular a economia. Não há sinal de fonte de dinamismo, uma nova tecnologia para se investir, por exemplo.
Mas nem tudo era bolha. A economia dos EUA ficou mais eficaz, é uma máquina de criar riqueza, e o país sempre conviveu com capitalistas bucaneiros e um grande espírito de invenção e empreendedorismo.
Bolhas e crise de investimento custam a passar, a cura dói, mas podem não ser catastróficas. Um grande nó cego da questão é Bush, que onde põe a mão bota fogo ou deixa queimar (Israel, Argentina, fraudes etc). Quando ele vai estar à altura de suas responsabilidades imperiais, se vai?


Texto Anterior: Editoriais: CURSOS SEQUENCIAIS


Próximo Texto: Brasília - Fernando Rodrigues: As avaliações do PT
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.