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VINICIUS TORRES FREIRE
O mundo é uma bolha
SÃO PAULO - Muita gente sensata e de esquerda se diverte com as revelações sobre a picaretagem empresarial
nos EUA, na qual foi pilhado até o
círculo de George "Baby" Bush.
Decerto pode se rir do mingau ideológico do conservadorismo dos últimos 20 anos, que martelou a idéia de
que só o Estado é corrupto, ineficaz e
atenta contra liberdades -veja-se
agora o que ocorre com megacorporações privadas até a alma, muitas tigres de papel financeiro.
Mas a mamata dos executivos-chefes jogou gasolina no fogo em que
queimam as ações das empresas dos
EUA e o prestígio do dólar, um ajuste
que começou há dois anos e não se
sabe bem como vai terminar.
Os preços das ações ainda estão altos demais em relação aos verdadeiros ganhos das empresas. Ainda vão
cair mais, pois os lucros vão ficar
mais mirrados pelo duplo efeito da
desaceleração econômica e da contabilidade menos picareta.
Diante dessas perspectivas, os investidores globais, que financiam os
US$ 450 bilhões que os EUA gastam
a mais do que produzem (seu déficit
externo), começam a debandar. Debandada significa dólar mais fraco,
risco de inflação e juro mais alto nos
EUA e no resto do planeta.
A economia dos países ricos vive
um clássico fim de bolha (que sempre
na história veio a par com fraude financeira) e uma grave e também
clássica crise de superinvestimento,
desta vez em computação e telefonia
avançada. Os consumidores desses
países não têm mais como estimular
a economia. Não há sinal de fonte de
dinamismo, uma nova tecnologia
para se investir, por exemplo.
Mas nem tudo era bolha. A economia dos EUA ficou mais eficaz, é
uma máquina de criar riqueza, e o
país sempre conviveu com capitalistas bucaneiros e um grande espírito
de invenção e empreendedorismo.
Bolhas e crise de investimento custam a passar, a cura dói, mas podem
não ser catastróficas. Um grande nó
cego da questão é Bush, que onde põe
a mão bota fogo ou deixa queimar
(Israel, Argentina, fraudes etc).
Quando ele vai estar à altura de suas
responsabilidades imperiais, se vai?
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