São Paulo, sexta-feira, 15 de julho de 2005

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HORA DE CORTAR JUROS

Veio a público na quarta-feira mais uma evidência de que o dinamismo do mercado interno permanece modesto e com risco de se esgotar proximamente. A Pesquisa Mensal do Comércio, realizada em âmbito nacional pelo IBGE, apurou que de abril para maio o volume de vendas do varejo aumentou 0,4% (descontadas as influências sazonais), situando-se 2,7% acima do patamar de maio do ano passado.
Esse número, que à primeira vista seria bastante positivo, foi, porém, inferior ao que esperavam bancos e consultorias -até porque de março para abril o resultado havia caído.
A pesquisa também trouxe à luz alguns aspectos preocupantes relativos à composição das vendas. O segmento que vem sustentando o crescimento é o de móveis e eletrodomésticos, sabidamente estimulado pelo crescente endividamento dos consumidores -situação que tende a encontrar limites mais adiante. Já as vendas do segmento de híper e supermercados, alimentos, bebidas e fumo, cujo desempenho está mais ligado à evolução do emprego e da renda do que ao crédito voltaram a cair em maio, depois da retração verificada de março para abril.
Sabe-se que a expansão do emprego, em particular na indústria, vem reduzindo seu ímpeto. A Sondagem da Indústria de Transformação da Fundação Getúlio Vargas, também divulgada anteontem, ratificou a perspectiva de que esse processo prossiga, pois a proporção dos empresários que disseram pretender demitir nos próximos meses (20%) superou a daqueles que afirmaram ter planos de contratar (16%). Foi a primeira vez, desde abril de 2002, que o saldo entre essas duas respostas se revelou negativo.
Uma desaceleração do emprego naturalmente limitaria a margem para endividamento adicional dos consumidores. São novas indicações de que o Banco Central precisa dar início a reduções progressivas da taxa básica de juros, sem o que a atividade econômica voltada para o mercado interno poderá resvalar para a estagnação neste segundo semestre.


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