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CLÓVIS ROSSI
Paris e o "período difícil"
PARIS - No meio do que seu assessor internacional Marco Aurélio Garcia
chama de "período difícil", a estada
do presidente Luiz Inácio Lula da Silva em Paris funcionou como uma espécie de bálsamo para a alma, a parte claramente mais afetada.
Paris, aliás, é sempre um bálsamo,
até para quem não tem a alma ferida. É impossível não se encantar com
essa cidade, mesmo em dias como
ontem, em que ela parecia o Saara de
tão quente e de tão forte o sol.
Além de Paris, há música para os
ouvidos de governantes sempre que
são hóspedes oficiais de países que sabem receber -e a França sabe, ainda que nem sempre queira.
Quem não se sentiria reconfortado
ao ouvir, como Lula ouviu ontem de
Jacques Chirac: "Sinto-me orgulhoso
de estar a seu lado, desde o princípio,
na busca de mecanismos de ajuda ao
desenvolvimento mais adaptados à
realidade do mundo". Refere-se ao financiamento para o combate à fome,
tema que os dois presidentes discutirão em mais detalhes hoje (entre eles,
atenção viajantes, uma taxa sobre
passagens aéreas).
Os franceses acarinharam Lula o
tempo todo. E os brasileiros que vivem na França não tiveram nenhum
gesto de hostilidade. Não se viu nem
se ouviu um só petista desiludido, como os muitos que escrevem para os
jornais no Brasil.
Lula não sabe, mas a imagem dele
está preservada em gente de quem ele
jamais ouviu ou ouvirá falar. O motorista do táxi que serpenteou por Paris tarde da noite ontem, para escapar da baita confusão no trânsito
provocada pelos fogos de artifício na
Torre Eiffel, me disse que não sabia o
nome de nenhum presidente brasileiro anterior, mas sabia bem o de Lula.
O rapaz é de Gana e está em Paris há
20 anos.
O problema é que Paris é uma só.
Como o presidente está disposto a reduzir as viagens internacionais ao indispensável (como foi essa visita), terá que ficar mais tempo no Brasil e
enfrentar no próprio país esse, digamos, "período difícil".
@ - crossi@uol.com.br
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