São Paulo, sexta-feira, 15 de julho de 2005

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ELIANE CANTANHÊDE

PF versus CPI

BRASÍLIA - Enquanto as CPIs comem na mão da imprensa e se consomem em depoimentos estéreis e recheados de mentiras durante horas e horas, a Polícia Federal age. A diferença é que CPIs são sempre contra os governos, enquanto a PF acaba sendo a favor. Como agora. A CPI dos Correios alimenta a crise política. A PF vai atrás da Daslu e de sonegadores e distrai a atenção, tirando o foco de Brasília para o Brasil real -que é o que, em 2006, vai votar (ou não) na reeleição de Lula. Antes, quem tinha uma denúncia enviava para as CPIs, que investigavam, descobriam as falcatruas e vazavam indícios, documentos e provas para os jornalistas. Hoje, o denunciante dispensa intermediários e vai direto à imprensa. Inverteu-se o processo: jornais, revistas e até as televisões publicam os escândalos, e a comissão corre atrás. Pelo menos até a quebra de sigilo dos suspeitos. Do outro lado, a Polícia Federal, a Receita e o Ministério Público têm mais agilidade e recursos para pegar, com a boca na botija, ora o sujeito do PT com dólares na cueca, ora os deputados da Igreja Universal com malas imensas de dinheiro, ora o templo do consumo dos ricos. Do ponto de vista político, a ação da PF distribui a lama igualmente, evitando que apenas o PT e o projeto de reeleição afundem nela. O resultado é que a PF neutraliza o efeito da CPI. Em vez de um "governo cheio de escândalos", fica a sensação de que a faxina é geral e é positiva. A estratégia do novo "núcleo duro" (Palocci, Thomaz Bastos e Jaques Wagner) é inverter o jogo: de réu, transformar o governo em vítima dos políticos, juiz dos ricos e purificador das instituições.
 
Por falar nisso, a reação obsessiva de Serra contra o fim da reeleição só tem uma justificativa: está de olho no futuro. Quer ser candidato, ganhar e se reeleger em 2010.

@ - elianec@uol.com.br


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